Título: Para a siderurgia, crise ainda não acabou, diz Jorge Gerdau
Autor: Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2010, Negocios, p. B20

O presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau, disse ontem que a crise não acabou para o setor siderúrgico. Embora a economia do Brasil esteja bem, boa parte da produção do setor é destinada ao exterior. Isso faz com que os problemas que persistem nos Estados Unidos e na Europa afetem a siderurgia nacional.

O empresário afirmou, durante o Congresso Brasileiro do Aço, em São Paulo, que o Brasil ainda tem um câmbio muito valorizado em relação a outros países. Ele criticou também o preço dos insumos necessários ao setor. "O gás no Brasil é 150% mais caro do que pagamos nos Estados Unidos", comparou. Para Gerdau, as empresas estão mais competitivas, mas "os macroproblemas ainda não estão resolvidos".

Também presente ao evento, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse que os setores público e privado têm que trabalhar juntos na criação de uma nova política industrial com o objetivo de aumentar a competitividade brasileira. "É preciso introduzir melhorias no sistema tributário mesmo sem a reforma que se espera há anos", disse Monteiro. Ele também reclamou da valorização excessiva do real e pregou novos esforços para tornar o país mais inovador.

Já o economista e ex-ministro Delfim Netto defendeu que a taxa de cambio seja competitiva e estável, próxima do nível praticado pelos competidores do Brasil no mercado internacional. Ele diz que é "perfeitamente possível" que o País cresça 5% ao ano. "O setor privado brasileiro sofreu ajustes e teve que se arrumar a cada "paulada" no câmbio. O que falta é a tragédia do setor público, que nunca se ajustou."

Papel do Estado. Segundo o professor de política econômica internacional da Universidade de Harvard, Dani Rodrik, a crise levou ao fortalecimento do papel dos governos na economia mundial. "Exemplo disso é Nicolas Sarkozy, na França, e Gordon Brown, na Inglaterra, que falam da necessidade de uma política industrial", exemplificou. Outra consequência é a busca da preservação dos mercados domésticos, que deve levar a um período de maior "lentidão" no ritmo da globalização.

Rodrik traçou três cenários para a economia mundial. Na melhor das hipóteses, o mundo passará a perceber "uma versão gerenciada da globalização", na qual haverá " mais espaço político para os governos", disse. O cenário "ruim" prevê que as lições da crise sejam ignoradas, enquanto a visão mais pessimista de todas inclui o retorno ao protecionismo de mercado que se via nos anos 1930.

O professor avaliou de forma positiva tanto a economia brasileira como um todo quanto o consumo doméstico de aço. Ele ressaltou que o setor siderúrgico é hoje muito mais integrado ao comércio internacional do que na década de 80. "Dificilmente Vale, Petrobrás, Embraer e Gerdau seriam o que são hoje sem acesso ao mercado internacional de capitais", disse o ex-ministro Mailson da Nóbrega, que também participou do evento.