Título: Copom acirra divisão entre economistas
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2010, Economia, p. B8

Desenvolvimentistas, aliados da Fazenda, defendem ajuste suave e criticam visão ortodoxa

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve iniciar nesta semana um novo ciclo de altas da taxa básica (Selic), que tem tudo para acirrar a polarização entre economistas ortodoxos, mais ligados ao BC, e os desenvolvimentistas, cujo pensamento tende a coincidir com as posições do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e seus assessores.

No mercado financeiro, o debate central é se o Copom, que se reúne na terça e quarta-feira, vai elevar a Selic, hoje em 8,75%, em 0,5 ou 0,75 ponto porcentual, o que a levaria a, respectivamente, 9,25% ou 9,5%. Pesquisa do AE Projeções, encerrada na sexta-feira, e que ouviu 66 instituições, mostra que todas preveem alta.

As projeções do mercado de aumentos totais da Selic em 2010 e 2011 variam de 2 a 5 pontos porcentuais ? neste segundo caso, a taxa básica chegaria a quase 14% em 2011. A projeção média do mercado é de uma inflação de 5,3% em 2010, acima do centro da meta de 4,5%. O aperto seria para levá-la de novo ao centro da meta ao longo de 2011.

Terrorismo inflacionário. Os economistas desenvolvimentistas (ou heterodoxos), porém, acham que o mercado exagera, e que defende os próprios ganhos quando prevê uma alta mais pronunciada da Selic. "O mercado sempre joga a previsão de inflação para cima, para criar esse clima de terrorismo inflacionário, e forçar a mão do BC a elevar a taxa; e, como a gente sabe, a tesouraria dos bancos ganha muito quando a taxa de juros sobe", diz José Luís Oreiro, economista da Universidade de Brasília.

Para Oreiro, o governo deveria, antes de iniciar a alta da Selic, retirar todos os estímulos à economia colocados em prática para combater os efeitos da crise. Defendendo um ajuste suave do ritmo de crescimento, ele nota que os depósitos compulsórios, reduzidos na turbulência, ainda não voltaram ao nível pré-crise, e que o governo anunciou que vai manter a redução do IPI para a construção civil.

Os desenvolvimentistas criticam a ideia de que o Copom deveria aumentar em 0,75 ponto a Selic para restaurar a credibilidade que teria sido arranhada pela manutenção da taxa em março. "Isso me parece uma maluquice, com apenas um trimestre de recuperação", diz Fernando Cardim, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Do outro lado do espectro de opiniões, o economista Márcio Garcia, da PUC-Rio, não tem dúvida de que o BC deveria aumentar a Selic em 0,75 ponto. "A inflação está aparecendo em qualquer indicador que se olhe, e isso está se refletindo nas perspectivas do mercado ? a melhor coisa que o BC pode fazer é mostrar um tacape bem grande agora, fazer três aumentos de 0,75 (consecutivos), e aí esperar para ver o que vai acontecer", ele diz.

COLABOROU FERNANDO NAKAGAWA