Título: Fluxo de refugiados brasiguaios aumenta tensão na fronteira
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2010, Internacional, p. A14

Expulsos por bandos armados, agricultores acampam em cidades do MS, que podem decretar estado de emergência

CAMPO GRANDE - O Estado de S.Paulo

Dezenas de famílias de fazendeiros brasiguaios estão sendo expulsas do Paraguai e voltando para o Brasil apenas com a roupa do corpo. A denúncia foi feita ontem pela prefeita de Naviraí (MS), Sandra Cassone (PT). De acordo com ela, as margens da rodovia BR-163 foram transformadas em uma cidade de lona plástica. Com o fluxo repentino de cerca de 1.600 pessoas do país vizinho na última semana, já são 3 mil famílias acampadas na região. "Terei de decretar estado de emergência" disse Sandra. Segundo ela, o município não tem condição de atender tamanho contingente de "flagelados" da crise paraguaia. São pessoas famintas e doentes, que recebem apoio apenas dos trabalhadores sem-terra, acampados nas proximidades das cidades de Naviraí e Itaquiraí, para armar barracas e se acomodarem. Ao longo dos anos, muitos brasileiros constituíram lavouras, rebanhos de gado bovinos e até criação de peixes do lado paraguaio, mas estão sendo expulsos por "bandos de homens armados". "Quando eles chegam, não existe apelação. É sair da terra e ir embora", explicou um dos acampados, pelo celular do acampamento. O problema do fluxo de refugiados se agravou nos últimos dez dias em razão da pressão que os brasiguaios vêm sofrendo no Paraguai para desocuparem as lavouras. O aumento inesperado de pessoas acampadas tem causado sérios problemas para os moradores das cidades do lado brasileiro da fronteira. Os acampados também sofrem, principalmente por causa da segurança, já que a maioria vive à beira da estrada. "Todos os dias, pelo menos uma pessoa é atropelada no local. O tráfego de cargas é intenso e, geralmente, as carretas não têm frenagem rápida. Só este mês, aqui na BR-163, contamos 30 ocorrências desse tipo", afirmou um dos líderes do acampamento, que se identificou apenas como Edeval. Protestos. Os atropelamentos motivaram alguns protestos e membros do MST chegaram a fechar a BR-163, reivindicando a instalação de redutores de velocidade em frente ao local onde funciona uma escola e a coordenação do acampamento. A maioria dos agricultores acampados reclama da ausência de um esquema de distribuição de cestas básicas, que antes era feito pelo Estado. A distribuição foi interrompida por decisão do governo estadual. Edeval explicou que muitas crianças e adultos no acampamento estão precisando de tratamento médico em caráter de urgência, já que não estão sendo atendidas pelas prefeituras da região. / J.N.O.