Título: MP investiga onde Universal usou remessas
Autor: Tavares, Bruno ; Godoy, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2010, Vida, p. A20
Objetivo é rastrear como foram aplicados os R$ 400 milhões supostamente transferidos para o exterior entre 1991 e 2001
- O Estado de S.Paulo
O Ministério Público Estadual (MPE) quer descobrir para onde seguiram e como foram aplicados os cerca de R$ 400 milhões supostamente remetidos pela Igreja Universal ao exterior entre 1991 e 2001. Em depoimento prestado anteontem a três promotores de Justiça, a doleira Cristina Marini, sócia da casa de câmbio Diskline, disse ter intermediado operações iniciadas em 1991, que se intensificaram a partir de 1995 e duraram até 2001. Conforme o Estado revelou ontem, Cristina apontou nomes e números de contas bancárias por onde teria passado o dinheiro da Universal nos Estados Unidos e em Portugal. Entre elas estaria a conta n.º 365.1.007.852, aberta na agência do Metrotech Center 4 do Chase Manhattan Bank, no bairro do Brooklin, em Nova York. O favorecido nessas transações seria identificado como "Universal Church". O MPE apura ainda a movimentações na conta "chamada Darteley Bank & Trust Ltd, mantida no MTB Bank", de Nova York. É a partir dessas informações que os promotores de São Paulo pretendem desvendar para onde seguiu e como foi aplicado o dinheiro da igreja. De acordo com o MPE, parte desses recursos foi usado na compra de imóveis, carros, empresas de comunicação e até um avião no Brasil. A acusação sustenta que esse dinheiro foi arrecadado pela igreja por meio do dízimo pago pelos fiéis. Os diretores da igreja negam. O criminalista Antônio Sérgio de Moraes Pitombo afirma que "a defesa quer encontrar e ter acesso às delações e tomar providências no sentido de verificar a legitimidade de como foram produzidas e apurar eventuais responsabilidades". A doleira é testemunha-chave da apuração sobre o suposto esquema de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha que envolve o bispo Edir Macedo, fundador e líder da igreja, e outros nove acusados. Cristina contou aos promotores que parte do dinheiro que remeteu para o exterior chegava em malotes, trazidos por caminhões. Revelou ainda ter ido aos subterrâneos de templos da Universal para recolher valores. Entre 1995 e 2001, segundo ela, a Diskline efetuou remessas mensais de R$ 5 milhões para o exterior. O método usado para driblar a fiscalização do Banco Central, diz a doleira, era o dólar-cabo - sistema no qual o dono do dinheiro entrega a quantia em reais para a casa de câmbio e retira o valor correspondente em moeda estrangeira em contas no exterior. Nova York. Antes de falar ao MPE, Cristina foi ouvida pela Promotoria da cidade de Nova York e pela Justiça Federal em São Paulo. Marcelo Bismarcker, um dos sócios da Diskline, também prestou depoimento no Brasil e nos EUA. Ele teria confirmado a realização de supostas operações irregulares de câmbio para a igreja, mas não soube informar valores e nem detalhes. Acionados por autoridades brasileiras, promotores de Nova York apuram supostos crimes financeiros cometidos nos EUA. O MPE fez um pedido de cooperação internacional com os EUA para bloquear contas e bens dos acusados naquele país. Desde 2009, a Justiça brasileira tenta intimar o bispo Macedo, mas não recebeu a resposta do pedido feito aos EUA. Na busca por Macedo, o MPE chegou a filmá-lo em cultos no Brasil na tentativa de demonstrar que ele podia ser encontrado aqui.