Título: Avanço de óleo eleva pressão sobre Obama
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2010, Vida, p. A26

O Estado de S.Paulo

Tragédia. Governo e empresa responsável pela plataforma estão sob ataque por terem demorado para dimensionar extensão do desastre no Golfo do México, que pode superar o do Exxon Valdez, em 1989. Barreira para evitar expansão da mancha não funciona Uma mancha de óleo maior do que o Estado de Sergipe chegou ontem à costa do Estado da Louisiana, nos EUA, e especialistas já previam um prejuízo maior do que o desastre do Exxon Valdez no Alasca, em 1989. O governo Obama e a companhia petrolífera British Petroleum (BP), responsável pela plataforma de petróleo que explodiu a 60 km do litoral, estão sob ataque por terem demorado para dimensionar o vazamento no Golfo do México. O governador da Louisiana, Bobby Jindal, decretou estado de emergência e exigiu que a Casa Branca e a BP ajam de forma mais eficiente para evitar um desastre ecológico. Flórida e Alabama também declararam emergência. O governo Obama demorou para reconhecer a magnitude do problema e sofre impactos políticos: muitos comparam a ação atual com a adotada na época do furacão Katrina, quando o governo Bush foi lento e ineficiente. Jindal disse que as barreiras flutuantes usadas pela BP para evitar que a mancha de óleo se espalhe não estão funcionando e que pássaros, peixes e pescadores da costa sofrerão prejuízos monumentais. O governador também disse que a empresa precisa agir imediatamente para conter o vazamento. A Louisiana se preparava para mobilizar 6 mil integrantes da Guarda Nacional por 90 dias para lidar com o derramamento. "Acho que os recursos usados pela BP até agora não são adequados para resolver os três maiores problemas, que são conter o vazamento, proteger a costa e fazer a limpeza", disse. Segundo especialistas, pode levar até 90 dias para que se consiga tapar a fonte do vazamento. No caso do Exxon Valdez, de 1989, a Exxon gastou, entre recursos para limpeza e indenizações, US$ 4,3 bilhões. Em média, a BP gasta, segundo especialistas em Wall Street, US$ 6 milhões por dia. O volume de petróleo derramado também pode ser superior (leia quadro). A secretária de Segurança Interna, Janet Napolitano, e o secretário do Interior, Ken Salazar, estiveram na área atingida e ressaltaram que a BP é "responsável" segundo a lei e está obrigada "a pagar pela operação de limpeza". Janet instou a petroleira a mobilizar mais recursos. De manhã, o presidente Barack Obama deu declarações na Casa Branca pelo segundo dia seguido, dizendo que o governo está cumprindo suas obrigações. Obama afirmou que um relatório sobre as causas do acidente e novas medidas de segurança estarão prontos em 30 dias. "Daqui para frente, todas as explorações terão de seguir essas medidas de segurança", disse. Falha. Especialistas apontam uma falha no processo de cimentação do oleoduto como a causa provável para a explosão da plataforma no dia 20 de abril. A explosão matou 11 pessoas. A empresa Halliburton estava encarregada do processo. Cerca de 300 barcos da Guarda Costeira e da Marinha foram mobilizados. A costa da Louisiana é tradicional área de pesca e criação de camarões e ostras, e o vazamento ameaça a economia da região. As áreas de pântano na costa são as mais vulneráveis e autoridades desviaram milhões de litros de água doce do Rio Mississippi para os mangues. O mau tempo complicou os esforços de resgate e contenção da mancha de óleo, porque as ondas estavam aumentando e havia um alerta de enchente. Os barcos estavam tentando remover o óleo da superfície da água. O Pentágono enviou dois aviões C-130 para derramar substâncias químicas na água. Mais de 715 mil metros de barreiras flutuantes foram espalhadas pela área afetada. Em Fort Jackson, a equipe de resgate de animais salvou o primeiro pássaro, um mergulhão encontrado coberto de petróleo. Funcionários da equipe usaram sabão de lavar louça para limpar o mergulhão. Exploração. O principal conselheiro da Casa Branca, David Axelrod, disse que o presidente Obama suspendeu por tempo indefinido a proposta de levantar a moratória de exploração de petróleo em alto-mar. A ideia sofria grande oposição de ambientalistas e legisladores de Estados como a Flórida, mas era defendida pelos republicamos. "Não vamos autorizar perfurações em alto-mar até que descubramos o que aconteceu lá e como é possível prevenir", afirmou Axelrod. Associações de pescadores e moradores da região afirmaram que vão processar a BP e o governo. "Estamos fazendo tudo que podemos para eliminar a fonte do vazamento e conter o impacto ambiental", disse o presidente da BP, Tony Hayward.