Título: Às vezes, tudo o que eles precisam é de alguém que faça um curativo
Autor: Vieira, Márcia
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2010, Vida, p. A20

O lema da escola está estampado no cartaz com a frase do escritor José Saramago: "Não tenha pressa. Mas não perca tempo." Milene Basílio, diretora da escola Ítalo Zappa, trabalha 12 horas por dia esbanjando criatividade para atender as crianças da favela Cesar Maia, área dominada por milícia com 12 mil moradores na zona oeste do Rio.

Milena não fica lamentando que faltam funcionários ou salas de aulas. Ela mobiliza professores, funcionários e pais para dar um ensino de qualidade a 1,2 mil crianças.

E os resultados apareceram na Prova Rio, avaliação que a prefeitura aplicou no ano passado para identificar o desempenho dos alunos das 1.062 escolas da rede municipal. A escola Ítalo Zappa ficou em terceiro lugar em português e em matemática. Uma exceção entre as escolas em favelas.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

O que vocês fazem para manter um bom nível de ensino?

Todo mundo aqui é responsável pela educação dos meninos - da direção ao gari que varre a escola. A prioridade aqui é a criança. Montamos uma rede de colaboradores. Temos ex-alunos que viram monitores e mães que ajudam.

E na sala de aula?

Temos também algumas estratégias. Com 35 alunos em sala, é difícil passar os conteúdos. Então, a gente tira metade da turma para fazer outra atividade enquanto a professora ensina a matéria. E depois revezamos.

Seus alunos acreditam que podem melhorar de vida por meio do estudo?

Claro. A educação é o caminho. Não tem outro. A escola faz toda a diferença para eles. E aqui todo mundo se empenha o tempo todo. O professor que vem para cá não pede para sair. Ele percebe que faz diferença na vida dos alunos. Algumas vezes os meninos chegam aqui com braço ferido. A gente faz um curativo, cuida. Às vezes, tudo o que eles precisam para começar bem o dia é de alguém que faça um curativo. / M.V.