Título: Europa adota medidas para blindar euro
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2010, Economia, p. B1

Cúpula da União Europeia decide criar um mecanismo de estabilização para evitar novos contágios e um fundo para ajudar países ameaçados

Depois de uma das semanas de maiores perdas no mercado desde a quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro de 2008, a Europa tenta blindar o euro contra a especulação e se compromete a endurecer as regras de participação na moeda única para exigir que países não acumulem novas dívidas.

Por iniciativa da Alemanha, os governos se comprometeram com cortes de gastos extras. Um mecanismo de estabilização para evitar novos contágios será criado, e a Europa promete um fundo para ajudar países ameaçados. Esse foi o resultado da reunião de emergência, que terminou já na madrugada de hoje e também aprovou o pacote de 110 bilhões para a Grécia.

Tudo isso para evitar a onda de contágios que ameaça o sistema financeiro internacional. Antes do encontro, tanto o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como o governo japonês haviam alertado a União Europeia que a crise já era global e a falta de uma resposta poderia enterrar as esperanças de recuperação da economia.

Mas o grande teste será na segunda-feira, quando se descobrirá se os mercados acreditam ou não nos líderes. "Temos de acelerar a regulação dos mercados financeiros. Temos também de tomar medidas para proteger a estabilidade do euro. Isso significa um compromisso firme de todos de que essa é a nossa moeda, mas também de que vamos lutar para garantir o pacto de estabilidade", disse a chanceler alemã, Angela Merkel. Ela não rejeita nem mesmo uma revisão do tratado, algo que ainda é visto com hesitação por muitos.

Tensão. A semana foi uma das mais tensas desde setembro de 2008. Em alguns mercados, como o de Madri, as perdas foram comparáveis ao tombo após a quebra do Lehman Brothers. As bolsas europeias tiveram seu pior momento em 14 meses.

O fracasso da Europa em conter a crise fiscal grega ainda provocou uma queda de 4,3% no euro, enquanto investidores abandonaram a moeda em busca de ativos considerados mais seguros. Desde novembro, o euro já perdeu 15%.

O mercado vem castigando a UE pela demora numa solução coordenada para crise. Já os líderes vêm preferindo culpar os especuladores pela situação e ontem usaram a cúpula da UE para afirmar sua crença que a queda acentuada dos mercados na quinta-feira foi um ataque orquestrado. Hoje os ministros do G-7 se reúnem para lidar com essa investigação. Isso porque o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, recebeu informações de que os movimentos especulativos teriam sido organizados. A França também teria indicações desse ataque.

Entre as medidas adotadas ontem, a UE promete uma "intervenção multilateral e um sistema articulado de respostas". O mecanismo incluiria até mesmo uma articulação com o BCE e a Comissão Europeia para dar recursos a países que possam ser contaminados pela crise.

Ontem, antes do encontro, os 47 maiores bancos privados da Europa se reuniram com o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, para apelar por uma intervenção no mercado, com a compra de títulos da dívida dos países para evitar um contágio mundial da crise na Europa.

As instituições financeiras temem que um calote da Grécia paralise o mercado, assim como ocorreu com a quebra do Lehman Brothers. "As consequências de um default da Grécia seriam similares ou pior (que a quebra do Lehman Brothers)", afirmou Olli Rehn, comissário de Assuntos Monetários da UE.

Força tarefa

Mais ajustes Os ministros de Finanças dos 27 países da União Europeia vão se reunir amanhã, em Bruxelas, para acertar um mecanismo que ajude os países europeus a prevenir futuras crises de débitos

Intervenção Está sendo analisada uma intervenção coordenada para pôr fim aos ataques especulativos que forçaram o resgate da Grécia, ameaçam a dívida soberana de outros membros e estão pondo o euro em xeque