Título: Telefónica tenta convencer acionistas da PT
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2010, Economia, p. B13
A Telefónica quer convencer os acionistas da Portugal Telecom (PT) a aceitarem a proposta de 5,7 bilhões apresentada pela participação dos portugueses na Vivo, maior operadora celular do País. Na segunda-feira, o conselho de administração da PT rejeitou por unanimidade a proposta, que embute um ágio de 145% sobre o fechamento dos papéis na sexta anterior.
"O fato de o conselho da PT ter rejeitado a oferta por unanimidade, sem dar aos acionistas a oportunidade de serem ouvidos, é um indicativo das prioridades da PT e deveria despertar dúvidas com relação à governança corporativa de uma empresa internacional tão bem cotada que, de acordo com a sua equipe de gestão, está orientada para os seus acionistas", afirmou ontem o diretor financeiro da Telefónica, Santiago Fernández Valbuena, durante teleconferência com analistas.
O executivo classificou a proposta da Telefónica de "completa, justa e definitiva". O controle da Portugal Telecom é bastante pulverizado. O maior acionista individual da empresa é a própria Telefónica, com 10% de participação. O conselho é formado principalmente por acionistas portugueses, como o Grupo Espírito Santo (7,99%), a Caixa Geral de Depósitos (7,3%) e o Grupo Ongoing (6,74%).
"Durante muitos anos, temos apresentado várias propostas para a PT para gerar e partilhar sinergias, sem obter resposta", disse Valbuena. Antes de apresentar a oferta de compra, no último dia 6, César Alierta, presidente da Telefónica, tentou sem sucesso convencer os portugueses a unir a Telesp (operadora fixa de São Paulo) e a Vivo, o que poderia gerar sinergias de 2,8 bilhões, segundo os espanhóis.
Entre os benefícios da união, o diretor da Telefónica destacou a possibilidade de integração do gerenciamento das redes das companhias e redução das taxas de desconexão (churn), além de potenciais ganhos fiscais e financeiros. "Em circunstâncias ideais, com as ações da PT e da Vivo valorizadas com o preço da nossa oferta e mantendo o restante em valor de mercado, a participação justa da PT seria de 31%", afirmou o diretor da Telefónica, acenando novamente com a possibilidade fusão.
Urgência. A união entre a Telesp e a Vivo é uma medida urgente para a Telefónica. O Brasil deveria ser o motor de crescimento do grupo, mas, com os problemas enfrentados pelo Speedy no ano passado e a queda natural dos negócios de telefonia fixa, a Telesp tem diminuído. Na quarta-feira, a empresa divulgou uma queda de 16,6% em seu lucro líquido no primeiro semestre, somando R$ 403 milhões. No mesmo período, a receita líquida caiu 1,7%, para R$ 3,893 bilhões.
Os portugueses, no entanto, não conseguem ver vantagens em unir uma empresa de forte crescimento como a Vivo a uma companhia de negócios declinantes como a Telesp. Na terça-feira, o presidente da PT, Zeinal Bava, foi enfático ao negar interesse na venda da Vivo: "Desinvestir do Brasil, por meio da alienação da Vivo, significaria amputar o futuro da PT, uma vez que a escala e o crescimento são fatores críticos de sucesso no setor das telecomunicações."
Valbuena disse que, se a venda da Vivo for apresentada aos acionistas, a Telefónica irá votar, "se não formos explicitamente proibidos, proibição da qual não estamos cientes". / VINÍCIUS PINHEIRO, RODRIGO PETRY E RENATO CRUZ
PARA LEMBRAR
Os esforços da Telefónica para crescer no Brasil não se resumem à oferta pelos 50% do controle da Vivo que está nas mãos dos portugueses. No ano passado, a empresa tentou comprar a companhia de telefonia fixa GVT, mas perdeu a disputa para os franceses da Vivendi. Antes de apresentar a proposta pela Vivo, a Telefónica tentou comprar a Telecom Italia. Apesar de já ser o maior acionista individual da operadora italiana, a compra do controle da companhia é barrada por motivos políticos. A compra da Telecom Italia permitiria aos espanhóis integrar a TIM à operação fixa.