Título: Mercado volátil traz oportunidades e riscos para o investidor, dizem analistas
Autor: Scrivano, Roberta
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2010, Economia, p. B6
Maioria dos especialistas descarta cenário caótico como o de 2008; por isso, recomendam que quem aplicou em ações não altere a posição
As indefinições sobre a crise da Grécia levaram enorme tensão ao mercado financeiro mundial na semana passada. Os ativos brasileiros também sofreram. O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), por exemplo, perdeu 6,9% entre segunda e sexta-feira. No acumulado do ano, o principal índice da bolsa brasileira tem uma queda de 8,34%.
Apesar de a situação ser incerta no momento e de haver dúvidas sobre os desdobramentos da crise europeia no resto do mundo, a maioria dos analistas descarta a repetição de um cenário caótico como o de 2008. Por isso, eles recomendam calma e foco no objetivo inicialmente estabelecido pelo investidor.
"As lembranças da crise de 2008 ainda estão muito frescas e isso provoca mais ansiedade no investidor. Este, porém, não é o momento de vender as ações", avalia Ricardo Almeida, professor de finanças do Insper (ex-Ibmec São Paulo).
Manter as alocações na Bolsa é opinião unânime entre os especialistas. "Quem vender agora realizará prejuízo", explica Fábio Colombo, administrador de investimentos. Ou seja, quem ainda não se desfez dos papéis apura, na pior das hipóteses, uma perda contábil. Em caso de venda, o prejuízo se torna efetivo.
Para Colombo, é necessário sempre ter em mente o objetivo inicial dos investimentos e não se deixar levar por um momento negativo. "A bolsa é assim e quem está nela deve ter estômago para aguentar oscilações." (ler mais na pág. seguinte)
Segundo os especialistas, o mercado deve se tranquilizar após a solução do problema europeu, sobretudo o grego. Rogério Bastos, diretor da consultoria FinPlan, estima que isso deve ocorrer entre três e seis meses. A partir daí, espera-se que as ações brasileiras voltem a uma trajetória positiva, calcada no bom desempenho da economia.
Por esses motivos, a opção de venda dos papéis só é recomendada para aqueles que investiram de forma equivocada no mercado acionário. Se enquadra nesse quesito, segundo os especialistas, quem aplicou toda a reserva em ações e/ou quem precisa usar o dinheiro imediatamente.
"Importante que isso sirva de lição também. Não se deve aportar na bolsa o "único" dinheiro ou algum volume que o investidor acha que poderá usar nos próximos três anos", alerta Almeida.
Janela. Para alguns, a crise pode ser oportunidade. Em momentos de forte queda nos preços dos papéis, costumam surgir janelas de compra.
Luiz Simões, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), observa, portanto, que a crise pode apresentar vantagens. "Mas isso não quer dizer que é para sair comprando."
O especialista também diz que é necessária análise criteriosa dos papéis para que ocorra a aquisição. "Independentemente da Grécia, o mercado interno está bem e isso pode abrir condições ainda melhores de investimentos na bolsa", comenta.
A importância de estudar o mercado e os papéis antes de ingressar em ações também é salientada por Bastos, da FinPlan. O consultor é outro que considera que a economia brasileira não deve ser afetada diretamente pelos problemas europeus, mas salienta que "é um momento para experientes".
"Regra número um: fazer um planejamento de longo prazo para as finanças pessoais", diz. "Depois de analisar quanto há para investir, o ideal é comprar papéis aos poucos", recomenda.
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