Título: Sarkozy telefona para Lula e incentiva Brasil a tentar levar Teerã ao diálogo
Autor: Monteiro, Tânia ; Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2010, Internacional, p. A14

Hoje, em visita oficial a Moscou, Lula buscará apoio de um 3º membro permanente do Conselho de Segurança

Aliado à Turquia e respaldado pela posição dúbia da China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem o aval do presidente da França, Nicolas Sarkozy, para sua missão de convencer o Irã a retomar as negociações sobre um acordo com as potências nucleares. Ainda hoje, em visita oficial a Moscou, Lula buscará o apoio de um terceiro membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Rússia, a esse acordo que, em tese, poderá evitar novas sanções contra Teerã.

No domingo, em Teerã, o presidente brasileiro se encontrará com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, e o presidente do Congresso, Ali Larijani. Segundo diplomatas brasileiros, Lula tentará convencer Ahmadinejad a evitar declarações contundentes, como a que fez ontem, quando afirmou que as resoluções da ONU contra o programa nuclear do Irã "não valem um centavo".

Além dessa iniciativa solitária, uma ofensiva conjunta do Brasil e da Turquia sobre Teerã poderá ocorrer na segunda-feira, quando o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, deverá se somar a Lula na abertura da 14.ª Cúpula do G-15, grupo de países em desenvolvimento que caiu no ostracismo na última década e foi convocado por Ahmadinejad.

A conversa entre Sarkozy e Lula demorou cerca de 20 minutos, segundo o Itamaraty, e o tema central foi a questão do Irã.

Do ponto de vista do Brasil e da Turquia, recuos pontuais do Irã e das potências nucleares (EUA, Rússia, China, França e Inglaterra) e Alemanha poderão permitir a conclusão do acordo prevendo a troca de urânio levemente enriquecido do Irã por combustível para a usina de Teerã, fabricante de radiofármacos. Para os dois aliados, esse seria um passo essencial para reconstruir a confiança mútua e impedir o isolamento do Irã.

A questão nuclear iraniana dominará boa parte da conversa de hoje entre Lula e o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev. Assim como a China, a Rússia está sensibilizada pela questão iraniana, por causa da ampla rede de comércio e negócios e da intensa cooperação bilateral, inclusive na área nuclear.

Pressão dos EUA. Ao mesmo tempo, Moscou se aproximou da administração de Barack Obama, presidente dos EUA, país que mais insiste na via das sanções.

Ainda ontem, em visita à Turquia, Medvedev declarou que a proposta de acordo nuclear com o Irã "não seria uma maneira ruim de resolver essa situação", desde que aprovada por "todos os participantes do processo". Sobretudo, os EUA. Segundo o embaixador do Brasil em Moscou, Carlos Antônio da Rocha Paranhos, ainda não se pode dizer que a Rússia apoiaria automaticamente novas sanções ao Irã.

Assim como o Brasil, o país não considera a retaliação um instrumento eficaz. Mas, se não houver alternativa, a Rússia defende que as sanções não devam paralisar a economia iraniana ou causar problemas sérios para a população. "Os russos estão estudando a evolução da posição iraniana. Eles têm assinalado que não estão esgotadas todas as possibilidades de diálogo", disse Paranhos.

PONTOS-CHAVE

Rússia

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje a Moscou, onde ficará até amanhã à noite. Lula se reunirá com o presidente Dmitri Medvedev e com o premiê Vladimir Putin

Catar

Lula chega a Doha na noite de amanhã e se reúne com o emir do Catar, Hamad bin Khalifa al-Thani, no sábado. No fim da tarde, o presidente brasileiro segue para o Irã

Irã

Líder brasileiro chega à capital Teerã na noite de sábado. No domingo, Lula se reúne com o presidente Mahmoud Ahmadinejad e com o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei

Espanha

Lula chega a Madri na tarde de segunda-feira, onde ficará até quarta-feira. Na capital espanhola, presidente participará da 6ª Cúpula América Latina e Caribe-União Europeia

Portugal

Presidente brasileiro chega a Lisboa na tarde de quarta-feira e se reúne com o líder português, Cavaco Silva. Na noite de quarta-feira, ele deixa o país com