Título: EUA enfrentam incômodo de rejeitar plano que ofereceram
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2010, Internacional, p. A12

Na batalha diplomática entre o Irã e o Ocidente, Teerã parece ter conseguido uma vitória. Com a assinatura de um acordo para o envio de parte de seu urânio pouco enriquecido ao exterior, Teerã criou a ilusão de progresso nas negociações nucleares, sem oferecer nenhum compromisso real com os Estados Unidos e seus aliados que cobravam negociações substanciais sobre o programa atômico.

Há quase oito meses, EUA, França e Rússia propuseram a troca de combustível nuclear ? para o reator de pesquisa do Irã ? como uma medida para a construção de confiança que teria, de fato, provocado uma pausa no programa iraniano e permitido que as conversações internacionais prosseguissem. Agora, o Irã conseguiu estreitar a discussão. O que supostamente era para ser um espetáculo secundário tornou-se o show principal.

Tal como foi inicialmente proposto. o Irã enviaria 70% do estoque de urânio enriquecido a 5% para a conversão em combustível na França ou Rússia. Como o Irã continuou enriquecendo urânio desde que o plano foi inicialmente proposto, um acordo com base nos mesmos termos removeria somente cerca de 50% do estoque do país.

Nesse meio tempo, o Irã começou a enriquecer urânio num teor ainda mais alto ? de 3,5% para 19,75% ? e autoridades iranianas disseram que continuarão com o procedimento. Obama enfrenta a perspectiva incômoda de rejeitar uma proposta que ele foi o primeiro a oferecer ou desperdiçar os meses de esforço para convencer Rússia e China a apoiar sanções. Ironicamente, a proposta de troca não tem relação com as sanções consideradas pela ONU, ligadas à construção de uma instalação nuclear em segredo no Irã e o não-cumprimento de pedidos para interromper o enriquecimento. A esperança dos EUA é a intransigência iraniana. Teerã pode regatear sobre detalhes e a aplicação do acordo até ele desmoronar, da mesma forma como concordou inicialmente com um acordo com os EUA e seus aliados para depois recuar. O Irã terá de apresentar uma carta à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da ONU, explicando os detalhes do acordo. Os EUA esperam secretamente que, com isso, comece o processo de fracasso da transação.

É JORNALISTA DO "WASHINGTON POST"