Título: Números do Caged sinalizam segundo trimestre mais forte
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2010, Economia, p. B3

Os dados de atividade, em geral, têm surpreendido para cima, e não foi diferente com a divulgação do Caged de abril. A criação de pouco mais de 300 mil empregos já indica que, em maio, deveremos ter um acumulado em 12 meses de dois milhões de empregos. A tendência agora é certa estabilização do crescimento do emprego em torno de 250 mil a 300 mil pessoas por mês, o que já garante, no mínimo, cerca de 2,3 milhões de pessoas contratadas no fim de 2010. Os números de fato têm impressionado e já sinalizam um segundo trimestre ainda mais forte do que foi o começo do ano. Vale ressaltar que essa recuperação é percebida em todos os segmentos e regiões, com destaque para o Sudeste, que concentra 52% do emprego gerado em 12 meses. Desses números duas análises podem ser feitas, uma de ordem econômica e a outra, política.

Primeiro, essa estatística exuberante é reflexo do superaquecimento pelo qual passa a economia. Por mais que parte do governo insista em negar, o País ainda não tem condições de crescer no ritmo atual sem gerar pressões inflacionárias, tanto que esperamos Selic em 13% em dezembro. Em outras palavras, ainda não chegou o momento de acrescentarmos 300 mil empregos por mês sem gerar inflação. Mas como as medidas de contenção de crescimento tardaram a chegar, não há praticamente nada além do que o governo já está fazendo para desacelerar esses números até o terceiro trimestre. O superaquecimento que se reflete no emprego deverá começar a arrefecer lá para o final do ano apenas.

Uma segunda consequência é política, pois não é nada mal para um governo divulgar números de emprego dessa magnitude. Mais ainda, a criação de emprego mascara um pouco do efeito inflacionário mais recente. Em economia, chama-se de índice de miséria a soma da taxa de desemprego e da taxa de inflação. Quanto maior o índice, pior a sensação de bem-estar da população. Mesmo o Caged não sendo uma taxa de desemprego, ele sinaliza um comportamento de melhora do emprego, enquanto a inflação, nesse momento, indica uma sensação de piora relativa para a população. Até as eleições, o governo deverá entregar o menor índice de miséria desde 2002, ou seja, deverá ser o momento de pico de bem-estar desde que começou o governo Lula. O problema é que, assim como há um superaquecimento na atividade, também o há na sensação de bem-estar. 2011 será um ano de menor criação de emprego e ainda dificuldade de reduzir a inflação. Ao ter esticado ao máximo possível as políticas monetária e fiscal o governo chegará às eleições como "nunca antes na história". O problema é que quanto maior o pico, maior é o tombo.