Título: PT defende rejeição a oferta bilionária
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2010, Negocios, p. B14
Presidente da Portugal Telecom visita os EUA e a Inglaterra para mostrar aos acionistas o motivo da recusa à proposta de compra da fatia na Vivo
O presidente da Portugal Telecom (PT), Zeinal Bava, começou ontem uma viagem aos Estados Unidos e ao Reino Unido para obter o apoio dos acionistas internacionais para a recusa da oferta da Telefónica pela parte da operadora portuguesa na Vivo, maior operadora celular brasileira.
Bava deve explicar o motivo de o conselho de administração da empresa ter recusado, na semana passada, a proposta de 5,7 bilhões pela fatia da Vivo, uma joint venture em que portugueses e espanhóis têm participações iguais.
Os acionistas estrangeiros controlam mais da metade do capital da Portugal Telecom e, entre os principais, além da própria Telefónica, que tem 10% de participação, estão o fundo Brandes Investment Partners (7,89%), o banco Barclays (5,1%), a BlackRock (2,3%) e o Credit Suisse (2%).
As primeiras conversas de Bava serão com o Brandes, em Nova York. Nesses contatos, durante a viagem de duas semanas, o executivo quer que os acionistas "percebam as vantagens da rejeição à Telefónica". Segundo Bava, o objetivo "é consolidar o apoio para o investimento em Portugal e na PT, em particular diante da crise do euro e da oferta não solicitada da Telefónica".
Quando rejeitou a venda da Vivo, Bava argumentou que perder sua participação na empresa brasileira "significaria amputar" o futuro da PT, e opinou que a companhia brasileira é "um ativo em crescimento que não pode ser só medido por meio de um critério meramente financeiro".
A Telefónica espera que o assunto seja discutido em uma assembleia de acionistas, mas até agora a posição oficial da PT é que a oferta, embora esteja em vigor, está formalmente rejeitada. A operadora espanhola acabou de divulgar resultados trimestrais e está conversando com os investidores. Um dos motivos para os portugueses fazerem o roadshow é evitar que seus acionistas ouçam somente um lado da história.
Defesa. O primeiro-ministro português, José Sócrates, defendeu a posição da Portugal Telecom. Segundo ele, a operadora é um ativo estratégico para Portugal e o Brasil é um mercado estratégico para o país europeu. Ele acrescentou que quer "uma Portugal Telecom grande". Apesar de não ter uma participação significativa na operadora, o governo português detém uma "golden share", que dá a ele poder de veto sobre as decisões.
Depois de Nova York, Bava viajará para a Costa Oeste dos EUA, visitando Seattle e cidades da Califórnia. A parada seguinte será Londres e outras das principais cidades europeias.
A integração de uma empresa celular com a Telesp (concessionária fixa de São Paulo) é vista como essencial para a estratégia da Telefónica no Brasil. A operação brasileira era encarada como motor de crescimento do grupo espanhol, mas tem apresentado resultados decrescentes nos últimos meses, por causa da redução dos assinantes de telefonia fixa e da paralisação das vendas do serviço de banda larga Speedy durante dois meses em 2009, após panes recorrentes.
Ontem, a agência de classificação de risco Moody"s apontou que a oferta apresentada pela Telefónica na semana passada de assumir o controle da brasileira Vivo poderia ter efeitos positivos em sua qualificação de crédito. Segundo a Moody"s, a proposta de compra em questão faz sentido estratégico para a Telefónica, pois fortaleceria sua posição competitiva no mercado de telefonia celular do Brasil.