Título: Ex-ministros votam contra o governo
Autor: Scinocca, Ana Paula; Andrade, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2010, Economia, p. B7

BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo Ex-ministros da Previdência em governos distintos, Ricardo Berzoini (PT-SP) e Reinhold Stephanes (PMDB-PR), candidatos a deputado federal nas próximas eleições, votaram pela extinção do fator durante a sessão na noite de terça-feira na Câmara que aprovou a medida provisória de reajuste das aposentadorias acima de um salário mínimo.

Ex-ministro da Previdência e ex-presidente do PT, o deputado Berzoini disse que votou pelo fim do fator previdenciário como forma de ajudar a negociação em torno de uma alternativa para as aposentadorias. Ele foi um dos 24 petistas a votar contra a orientação do partido.

"Quando você vota alguma coisa, pode estar votando para que aconteça aquilo em que votou ou para ajudar o processo avançar. A votação de ontem ajuda a avançar a discussão em torno da proposta do deputado Pepe Vargas (PT-RS)", alegou Berzoini. Pepe Vargas, outro petista que ajudou a enterrar o fator previdenciário, propôs uma fórmula que soma a idade com o tempo de contribuição, conhecido como fórmula 95/85.

O deputado Stephanes argumentou que o fator previdenciário atinge apenas os trabalhadores da iniciativa privada, onde não estão os maiores problemas. "As maiores distorções de aposentadoria precoce estão no serviço público, no Poder Legislativo, no Judiciário e em todos os outros setores. Então, não é justo a existência do fator previdenciário apenas para aqueles que efetivamente têm maior desgaste e que trabalham mais", disse.

O ex-ministro afirmou estar certo que Lula vetará a proposta. Tanto Berzoini quanto Stephanes negam a motivação eleitoral para votar pelo fim do fator previdenciário. "Determinados assuntos não deveriam ser votados em ano eleitoral. O que a gente notou foi o próprio governo votando a favor (da extinção do fator)", disse Stephanes.

"Momento de calor". O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) não vê sentido nas justificativas dos deputados que votaram pelo reajuste de 7,7% das aposentadorias acima do mínimo e pelo fim do fator previdenciário. "Tomar uma decisão em um momento de calor, com as pessoas preocupadas com as eleições, se vão ser reeleitos, se vão conseguir alguns votos a mais, tomar decisões baseadas em princípios demagógicos, é irresponsável, acho isso errado. Nós não deveríamos compactuar com isso". E acrescentou: "Não se vota aumento de despesa sem saber se vai ter dinheiro para pagar. Isso é uma questão de responsabilidade institucional".