Título: Pacotes de austeridade agravam crise do euro
Autor: Xavier, Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2010, Economia, p. B4

Paul Volcker, ex-presidente do Fed e assessor de Obama, diz que moeda comum, que teve sua pior cotação em 18 meses, corre risco de desintegração

AGÊNCIAS INTERNACIONAIS - O Estado de S.Paulo

Apenas cinco dias depois de a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentarem um pacote de 750 bilhões para tentar debelar a crise europeia, os mercados voltaram a ser sacudidos ontem com preocupações sobre o futuro da zona do euro. Bolsas desabaram pelo mundo e o euro chegou a ser cotada abaixo de US$ 1,24, a menor cotação em 18 meses.

"Estamos à beira de uma crise de confiança", disse Derek Halpenny, economista do Bank of Tokyo-Mitsubishi UFJ, em Londres. "Nós tivemos rumores de países que ameaçam se afastar do euro e comentários de funcionários graduados europeus que estão preocupadas com um possível colapso." O economista americano Barry Eichengreen disse que a Europa vai sofrer um "duplo mergulho" e que o calote grego é "provável".

Segundo Halpenny, chamou a atenção o fato de Paul Volcker, conselheiro do presidente Barack Obama, ter advertido para uma "potencial desintegração" do euro e a afirmação de Jean-Claude Trichet, o presidente do Banco Central Europeu, sobre uma "mudança fundamental" na zona do euro.

Além do futuro da moeda, investidores observam, segundo os analistas, que os pacotes de cortes apresentados por alguns países, como Espanha e Portugal, devem gerar deflação e estagnação e reduzir ainda mais o ritmo da recuperação da região. Ontem, a Espanha divulgou sua primeira deflação (-0,1%, em abril) desde 1986.

Crise grega. Além de todos esses problemas a crise grega não para de gerar sobressaltos. Ontem, o presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann, pôs em dúvida a capacidade de a Grécia pagar toda sua dívida, apesar do plano acertado com a UE e o FMI. "Eu duvido que a Grécia seja capaz de recuperar o seu potencial econômico."

Há ainda crescentes temores sobre o estado do sistema bancário europeu, que seria atingido fortemente pela desaceleração das economias dos países da região com um crescimento de empréstimos de má qualidade. O temor é que seus problemas poderiam ser transmitidos para os EUA por meio dos bancos.

Ontem, os bancos expostos à economia espanhola sofreram duras perdas. As ações do Santander, por exemplo, caíram 9,8%, levando o índice Ibex-35, de Madri, a cair quase 7% (veja as quedas das bolsas na pág. B4). Bancos franceses também sofreram perdas acentuadas. Papéis do Société Générale caíram 8,6%.

Também afetaram os mercados relatos - posteriormente desmentidos - de que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, teria ameaçado retirar seu país do euro se outras nações da região não concordassem em contribuir com o pacote de socorro.