Título: O ''vale a pena ver de novo'' de juro versus política fiscal
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2010, Economia, p. B6

A economia brasileira vive, neste primeiro semestre de 2010, uma situação bastante semelhante em termos de política econômica à vivenciada no mesmo período de 2008. O governo brasileiro iniciou os primeiros meses num contexto de crescimento acelerado e esgotamento de um ciclo de inflação baixa. Naquele início de 2008, o Banco Central preparava um ciclo de alta nos juros e o Ministério da Fazenda tentava agir para, pelo menos, atenuar o ímpeto do Banco Central. Como ocorre agora.

Em março de 2008, o BC deixou claro que puxaria o gatilho dos juros, que estavam na época em 11,25% ao ano. E o fez em abril, subindo a Selic em 0,5 ponto porcentual. Em março de 2010, a autoridade monetária agiu de modo semelhante: deixou clara a necessidade de elevar juros. E o fez no mês passado, elevando a Selic de 8,75% para 9,5% ao ano.

O Ministério da Fazenda operou na mesma linha. Passou os primeiros meses de 2008 argumentando que não havia descontrole inflacionário e que a alta da inflação era essencialmente de choques em preços de alimentos e na educação, que sazonalmente sobe mais. Quando viu que não tinha jeito e que o BC já estava cumprindo sua ameaça de aperto, a Fazenda lançou mão da política fiscal para, no mínimo, atenuar o ciclo de alta nos juros.

Em 2010, em uma espécie de "vale a pena ver de novo", a Fazenda nos últimos meses jogou a conta da inflação nos choques de oferta. E agora, depois de iniciado o ciclo de aperto monetário, reforça a política fiscal, anunciando corte de R$ 10 bilhões de despesas. Além disso, vai divulgar um forte resultado primário em abril, depois de três meses de desempenho fiscal fraco.

É JORNALISTA DO "ESTADO"