Título: Para Meirelles, alta dos juros foi ''pacífica''
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2010, Economia, p. B9
Presidente do Banco Central diz que pacote de corte de gastos atende a pedidos para ter ajuste
O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem, quando indagado sobre as críticas que estaria recebendo por causa do recente aumento da taxa básica de juros, a Selic, que acredita que "este tem sido o aumento de taxas de juros dos mais pacíficos dos últimos sete anos". Segundo o presidente do BC, "não há dúvida de que há um consenso dos formadores de opinião de que a economia necessita de ajuste e o pacote de corte de gastos está nessa direção".
Para Meirelles, "é preciso que cresçamos o máximo possível, mas de forma equilibrada, sustentada, responsável". Ele acrescentou ter certeza de que "a população aprova que mantenhamos a responsabilidade". Meirelles concedeu entrevista coletiva depois do encerramento do 12.º Seminário Anual de Metas para Inflação, na sede do Banco Central, no Rio.
O presidente do BC afirmou, ao comentar a queda forte do euro na sexta-feira - em meio à redução do entusiasmo dos investidores com o pacote europeu contra a crise na Grécia -, que "o anúncio foi feito há apenas cinco dias, e é normal a volatilidade nos mercados".
Ações eficazes. Meirelles lembrou que situação similar foi vivenciada quando as medidas em reação à crise dos Estados Unidos foram anunciadas, mas aquelas ações acabaram se mostrando eficazes. Ele reafirmou que o Brasil está preparado para crises, mas disse duvidar que as atuais turbulências em alguns países europeus possam gerar efeitos similares aos causados pela crise de 2008.
"Precisamos sempre olhar com cautela, trabalhar esperando o pior e torcer pelo melhor, mas é difícil que ocorra de novo uma situação daquelas", afirmou. Para Meirelles, "o fato é que, por enquanto, é prematuro avaliar os desdobramentos da crise europeia". Segundo ele, "o Brasil está muito bem preparado para o enfrentamento de crises externas".
Também na sexta, no segundo e último dia do seminário, o presidente do Bundesbank (banco central alemão), Axel Weber, defendeu, durante a sua apresentação, a necessidade de que as políticas fiscal e monetária se reforcem mutuamente.
Segundo Weber, se os crescentes déficits públicos nos países ricos provocarem uma perda de confiança dos mercados, as taxas de juros cobradas pelos financiadores dos governos vão subir. Isso, por sua vez, iria na contramão dos estímulos fiscais e creditícios que ainda estão operando nessas economias, para revitalizar seu crescimento. Em outras palavras, um estímulo fiscal sem a contrapartida de medidas críveis de saneamento das contas públicas pode ser contraproducente, ao provocar alta dos juros e frear a economia.