Título: Indústria sofre com atraso de entregas
Autor: Chiara, Marcia de
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2010, Economia, p. B8

Superaquecimento também provoca fortes pressões por reajustes de preços de matérias-primas e alongamento dos prazos de entrega às fábricas

O ritmo acelerado de crescimento do consumo já faz indústrias fretarem avião carregado de componentes eletrônicos da Ásia para Manaus (AM) a fim de atender à procura por TVs. O superaquecimento das vendas - não só de televisores, impulsionado pela Copa do Mundo -, além de enxugar os estoques de produtos e insumos, também provoca fortes pressões por reajustes de preços de matérias-primas e alongamento nos prazos de entrega de insumos às fábricas.

Duas pesquisas sobre o setor industrial, uma da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e outra do HSBC, retratam com números os impactos da corrida dos fabricantes para atender à maior procura. No trimestre encerrado em abril, quase que dobrou em relação a janeiro a fatia de indústrias que registraram aumento no prazo de recebimento de insumos e matérias-primas, aponta a sondagem industrial da FGV.

Entre as cerca de mil indústrias consultadas no mês passado pela sondagem, 9% delas informaram que os fornecedores estão levando mais tempo para entregar os insumos. No trimestre encerrado em janeiro, 5% das indústrias relataram essa condição de abastecimento.

Segundo o coordenador técnico da sondagem, Jorge Ferreira Braga, de 13 setores industriais pesquisados pela FGV, 12 registraram alongamento nos prazos de entrega em abril. Em janeiro, tinham sido sete. Material de transporte e as indústrias mecânica e de material elétrico, que inclui as TVs, estão entre os setores que tiveram maior proporção de indústrias afetadas pelo prazo mais longo de entrega de insumos.

Movimento. Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do HSBC, realizada pelo Markit Group, confirma o alongamento de prazos de entrega de insumos e as pressões inflacionárias na cadeia de produção industrial. "Abril foi mais um mês em que aumentou o prazo de entrega de insumos às indústrias, movimento que vem ocorrendo desde meados de 2009", afirma o economista-chefe do HSBC, André Loes.

O indicador para o prazo de entrega, em que 50 representa normalidade e abaixo de 50 maior tempo para fornecer os insumos, fechou abril em 46,7 pontos depois de ter encerrado 2009 em 48,3 pontos. Em contrapartida, outro indicador da pesquisa do HSBC, que acima de 50 revela pressões inflacionárias dos insumos industriais na cadeia de produção, atingiu em abril 59,4 pontos numa trajetória crescente desde janeiro.

"Estou perto de ocupar 95% da capacidade de produção das fábricas e, se continuar nesse ritmo, logo vou atingir 98%", prevê Sergio Amoroso, presidente do Grupo Orsa, grande fabricante de embalagens de papelão ondulado, espécie de termômetro do ritmo de atividade porque reflete a demanda de setores importantes da economia, como eletrônicos, artigos de higiene e alimentos industrializados.

Ele conta que o ritmo de vendas da empresa cresceu 19% até abril, na comparação com o mesmo período de 2009, e neste mês está um pouco mais intenso. Por causa do volume maior de pedidos, os prazos de entrega das embalagens fornecidas pela companhia, que oscilavam entre 4 e 5 dias, vão dobrar. "Pegamos mais clientes e a carteira ficou cheia", diz ele.

De carona na demanda aquecida, o grupo vai reajustar em 20% os preços das embalagens a partir do mês que vem. A intenção é repassar a alta de 40% no preço da celulose ocorrida entre janeiro e abril.

Produção acelerada. A Fugini, fabricante de alimentos industrializados e grande consumidora de embalagens, é outro exemplo de empresa que pretende acelerar a produção para atender à demanda aquecida. Trabalhando hoje em três turnos, com 80% da capacidade das fábricas, a companhia viu seu estoque de produto acabado cair pela metade desde do início do ano, de 15 para sete dias.

"Nossos estoques estão muito baixos . O ideal é ter mais de 15 dias ", afirma o gerente nacional de vendas da empresa, Eduardo dos Santos.

Menos estoques No Grupo Orsa, os estoques de papel, o insumo básico para produção das caixas de papelão ondulado, caíram pela metade de janeiro para maio, com o ritmo aquecido da produção.