Título: Produtos piratas são vendidos a céu aberto
Autor: Dantas, Pedro; Burgarelli, Rodrigo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2010, Economia, p. B4

Cópias de artigos importados são exibidos em ruas e galerias: no ano passado, fiscais apreenderam só 0,2% dos itens pirateados em São Paulo

O comércio de produtos piratas continua ocorrendo abertamente em São Paulo, em locais conhecidos há décadas pelos paulistanos. Isso pode ser explicado em parte pela quantidade de apreensões feitas pela polícia, que ainda é tímida. Apesar de a cidade ser um dos maiores mercados consumidores de pirataria do Brasil, foram apreendidos em 2009 apenas 0,2% do total movimentado um ano antes, segundo dados da Polícia Civil e do Ibope.

Por isso, o comércio ilegal resiste nas galerias e camelôs, apesar das ações policiais. Um exemplo foi a operação do Departamento de Investigações sobre Crime Organizado (Deic) na quinta-feira, que apreendeu 3,8 milhões de itens piratas em três regiões da capital. No dia seguinte, a reportagem visitou shoppings populares em um dos locais onde houve apreensão - a região da Rua 25 de Março, no centro. Produtos falsificados eram vendidos a céu aberto e nas galerias dos arredores. Nas calçadas, ambulantes vendiam CDs e DVDs de música e filmes - no dia anterior, 973 mil DVDs e 680 mil CDs haviam sido apreendidos, segundo a Polícia Civil.

Na Galeria Pagé, um dos maiores e mais conhecidos centros de comércio popular de São Paulo, duas grandes ações de apreensão foram feitas pela Receita Federal em março e abril. No entanto, celulares falsificados das marcas Sony e Nokia podiam ser encontrados na galeria na sexta-feira, além de calçados piratas das marcas Nike, Echo e Puma. "Qualquer par sai por R$35", anunciava um comerciante.

Além da 25 de Março, há outros pontos de venda de piratas. Na Rua Santa Ifigênia, no centro, há CDs, DVDs e eletrônicos. No Bom Retiro, calças, camisas e agasalhos. Sete camelôs enfileirados em um quarteirão da Rua Augusta vendem filmes cult. E, nas duas galerias que vendem produtos piratas da Avenida Paulista, é possível comprar um videogame Nintendo Wii - o mesmo encomendado pelo secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., ao chinês Paulo Li.

No imenso Mercado Popular da Uruguaiana, em quatro quadras no centro do Rio, a presidente da União dos Comerciantes, Rosalice Oliveira, diz que tenta convencer os donos dos 1.600 boxes a não vender produtos piratas, mas a tarefa é difícil. "Nós tentamos conscientizar as pessoas, mas não tenho o poder de polícia. Quando tem a operação da polícia é uma correria."

É possível encontrar quase tudo na Uruguaiana. De relógios a calcinhas e muitos produtos piratas. "Os flagrantes são diários. Este ano já apreendemos 1,6 milhão de mídias. No ano passado, foram 3,9 milhões", diz o delegado titular da Delegacia de Combate aos Crimes contra a Propriedade Imaterial, Raul Morgado. Ontem, a polícia apreendeu 10 mil pares de tênis piratas num depósito em Jacarepaguá, na Zona Oeste. Mas, as recorrentes operações policiais ainda não foram suficientes para reprimir o comércio ilegal.

Nas ruas do Centro, os produtos são anunciados em voz alta em frente a locais como o Shopping Avenida Central, especializado em informática, som e vídeo. Na sexta-feira, alguns vendedores anunciavam pen drives de 4 gigabytes a R$ 40. O mesmo preço das lojas, que pode cair, de acordo com a capacidade de pechinchar do cliente.