Título: Ministro do Irã é acusado por ação terrorista
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2010, Internacional, p. A14

Entre as autoridades iranianas que devem se encontrar hoje com presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Teerã, está o suposto mentor do atentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia), em 1994. Nomeado ministro da Defesa no ano passado, Ahmad Vahidi é acusado pela Justiça argentina de ter ordenado o ataque em Buenos Aires. Atribuída ao Irã e ao grupo libanês Hezbollah, a ação matou 85 argentinos.

Há três anos, a Interpol expediu uma ordem internacional de prisão contra Vahidi. Teerã e o ministro, porém, negam o seu envolvimento no ataque. Segundo o protocolo, como o ministro da Defesa, Nelson Jobim, integra a comitiva brasileira, seu homólogo iraniano deve participar do encontro. O Itamaraty não confirmou a presença de Vahidi e diz que cabe ao Irã decidir seus representantes na reunião.

Em 1994, Vahidi era chefe da unidade Al-Quds da Guarda Revolucionária, "o braço iraniano que conduz operações terroristas no exterior", explicou ao Estado o procurador argentino Alberto Nisman, que chefia as investigações do caso Amia. "Ele teve papel-chave no planejamento e na decisão de atacar a Amia. Na Argentina, cumpriam suas ordens diretas".

Nisman se recusou a comentar o encontro com o acusado do caso Amia, argumentando que se trata de uma "questão política". "Mas é preciso entender que ele é acusada de terrorismo internacional. Há uma ordem internacional de captura para que seja julgado aqui", disse.

A diplomacia argentina ficou revoltada quando, em agosto, o presidente Mahmoud Ahmadinejad indicou Vahidi para a pasta da Defesa. "Trata-se de uma afronta à Justiça argentina e às vítimas desse ataque terrorista", dizia um comunicado da chancelaria argentina.

Teerã respondeu que Buenos Aires não tinha direito de "se meter em um assunto interno iraniano" e chegou a pedir explicações para o encarregado de negócios argentino em Teerã.

PARA LEMBRAR

A proposta da AIEA para os iranianos

O Brasil e a Turquia querem convencer o Irã a aceitar a proposta feita pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) no ano passado. O Irã entregaria o seu urânio para França e Rússia, que enriqueceriam o combustível e o devolveriam para ser usado em um reator de pesquisas médicas. Desse modo, a comunidade internacional garantiria o enriquecimento em níveis mais baixos do que os usados para armas nucleares. Em vez de esperar pelo enriquecimento, Teerã exige que a troca seja simultânea.