Título: Ala do PT joga fatura no colo de Pimentel
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2010, Nacional, p. A8

Grupo de Patrus quer que ex-prefeito de BH arque com ônus de abrir mão da disputa ao governo mineiro para apoiar Hélio Costa, do PMDB

Uma nova guerra entre correntes no PT de Minas Gerais ameaça o casamento de papel passado com o PMDB no segundo maior colégio eleitoral do País e preocupa o Palácio do Planalto.

Agora, o grupo do ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias quer que o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, um dos principais coordenadores da campanha de Dilma Rousseff à Presidência, arque sozinho com o ônus de desistir da disputa ao governo mineiro para apoiar a candidatura do senador Hélio Costa (PMDB).

Em reunião da Executiva do PT, na segunda-feira, petistas ligados a Patrus conseguiram aprovar o adiamento do encontro estadual previsto para homologar o nome de Pimentel como vencedor da prévia que escolheu o candidato do partido ao governo de Minas. Anteriormente marcado para o fim de maio, o encontro mineiro foi empurrado para 19 e 20 de junho, uma semana depois da convenção nacional do PT que oficializará a candidatura de Dilma, no dia 13.

Por trás da manobra, há o desejo de constranger Pimentel diante dos militantes, não deixando a ele outra opção a não ser revelar a existência do acordo com o PMDB para renunciar à disputa. Dividida, a seção mineira do PT também quer transferir para o Diretório Nacional o desgaste de obrigar o partido a desistir da candidatura própria em Minas, fazendo uma intervenção branca em nome do palanque único para Dilma.

Horário eleitoral. "É um erro histórico o PT não ter candidato ao governo de Minas", disse o presidente do PT mineiro, deputado Reginaldo Lopes. "Para mim, a chance de Hélio Costa e Pimentel serem candidatos ainda é a mesma. Se eu perceber que não é, estou fora do acordo." Pimentel derrotou Patrus na prévia, mas, a pedido de Dilma e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deve concorrer ao Senado. Lula decidiu intervir na novela que se arrasta desde o ano passado porque o PMDB exige a cabeça da chapa em Minas - Estado hoje administrado pelo rival PSDB - como condição para aderir à campanha de Dilma.

De olho no tempo de televisão do PMDB no horário eleitoral, a cúpula do PT acalmou os caciques do partido aliado e deu sua palavra de que tudo estará resolvido até 6 de junho. A ideia é anunciar nesse dia a composição da chapa ao governo mineiro. Na tentativa de demonstrar unidade, Pimentel e Costa participaram ontem de um ato político conjunto, em Juiz de Fora (MG).

O problema é que, pelos trâmites do PT, a decisão tem de ser referendada por seu encontro estadual. Com o novo calendário, porém, esse encontro só ocorrerá duas semanas após a divulgação do edital de casamento com o PMDB de Costa. Antes, em 12 de junho, haverá a reunião do Diretório Nacional do PT. No mesmo dia o PMDB fará convenção para sacramentar a aliança com Dilma, que deve ter o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), como vice na dobradinha.

Um auxiliar de Lula admite que a cúpula do PT, hoje, não tem maioria folgada para aprovar "a seco" o enquadramento da seção mineira. Mas está certo de que a pressão do Planalto surtirá efeito.

Preocupado com o corpo mole petista na campanha, o PMDB quer amarrar a aliança tendo o PT como vice. O desejo é que Patrus ocupe a vaga, mas ele resiste. Alguns acham, no entanto, que o ex-ministro pode mudar de ideia.

"Meu compromisso com o projeto nacional é permanente, mas passa também por Minas e pelo resgate do Estado", argumentou Patrus. Diante das dificuldades, o nome mais cotado para vice voltou a ser o do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG).

"Não estou sabendo de nenhum adiamento do encontro do PT. O que interessa é que vamos anunciar a chapa no dia 6 de junho, custe o que custar", afirmou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). "Há uma disputa interna no PT e nós estamos sempre atentos, acompanhando de perto, mas acreditamos que, independentemente de encontro ou convenção, o acordo com o PMDB será cumprido", insistiu o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Em jogo O Estado de Minas é disputado pelos presidenciáveis pelo tamanho do seu eleitorado. Segundo o TSE, são 14,2 milhões de eleitores, o que representa 10,7% do eleitorado nacional.