Título: Teerã pode ter superestimado seu poder
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2010, Internacional, p. A16

O acordo firmado na terça-feira pelas cinco potências dominantes do Conselho de Segurança da ONU para dar prosseguimento à aplicação de novas sanções contra o Irã veio como uma resposta surpreendentemente rápida aos esforços de última hora do Irã para evitar medidas punitivas. A medida sugere que Teerã pode ter superestimado seu próprio poder.

Um dia antes, os líderes iraniano, turco e brasileiro se reuniram em Teerã para declarar que as sanções haviam se tornado irrelevantes em razão de sua iniciativa diplomática conjunta. O Irã aceitaria o acordo de princípios, firmado em outubro passado com as grandes potências, mas do qual já havia se afastado. O pacto envolvia a transferência de parte de seu estoque de urânio enriquecido para o exterior em troca de hastes de combustível para o reator de pesquisas iraniano.

A decisão de Rússia e China, na terça-feira, de aceitar as novas medidas punitivas, junto como EUA, Grã-Bretanha, França e Alemanha, foi um claro sinal de que as grandes potências não ficaram impressionadas com o acordo firmado em Teerã. A razão parece ser a percepção de que o Irã está oferecendo muito pouco e pedindo demais.

Ofensiva diplomática. No dia 6, o chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, ofereceu um jantar em Nova York para representantes dos países membros do Conselho de Segurança da ONU. A suposta ofensiva diplomática saiu pela culatra quando Mottaki insistiu que o Irã continuaria produzindo seu próprio urânio enriquecido a 20%, ainda que o acordo sobre o reator de pesquisa fosse implementado.

Essa declaração, despreocupadamente repetida pela chancelaria iraniana na segunda-feira, chocou os diplomatas reunidos. Ela marcou uma agressiva escalada do programa de enriquecimento do Irã e é apenas um pretexto civil para alimentar o reator.

As cinco grandes potências conseguirão aprovar as sanções no Conselho de Segurança, apesar das objeções de turcos, brasileiros e, provavelmente de alguns outros membros não permanentes do órgão, o que certamente deixará um gosto amargo na ONU. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK