Título: Proposta não alivia pressão por sanções mais rigorosas
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2010, Internacional, p. A16

No dia seguinte ao anúncio do acordo intermediado por Brasil e Turquia em Teerã, o editorial do Wall Street Journal, oráculo da direita conservadora dos EUA, tripudiou da aparente derrota do presidente Barack Obama. "Que fiasco", era o início do texto intitulado O golpe nuclear do Irã. "Todo o crédito pelo fracasso vai para a infeliz diplomacia do governo Obama."

Acuada, a Casa Branca teve de apressar a apresentação do rascunho de resolução de sanções na ONU, sob pena de sair humilhada. Para isso, obviamente, teve de fazer várias concessões à China e à Rússia, países que têm grande intercâmbio comercial com o Irã e se opunham a restrições ao comércio de petróleo e gasolina e os limites para o banco central iraniano. O resultado é que o rascunho de sanções alinhavado pela Casa Branca não satisfez à linha dura dos EUA, que continuará pressionando por sanções mais duras, e unilaterais, no Congresso.

Não que isso seja surpresa. Desde o início, os republicanos conservadores e o lobby judaico, predominantemente democrata, estavam céticos a respeito do alcance de sanções da ONU. Desde 2006, já houve três rodadas de sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança. Sob pressão de China e Rússia, as três rodadas de sanções foram enfraquecidas a tal ponto que não tiveram efeito nenhum sobre o regime iraniano.

"Os EUA precisam agir antes, sozinhos, com sanções unilaterais contra o Irã, independentemente do que fizerem as outras nações", disse o senador democrata Charles Schumer. "Como os EUA e seus aliados já reconheceram, o esforço internacional precisa vir acompanhado de sanções mais duras, unilaterais, de cada país", disse o rabino David Saperstein, do Centro de União pelo Judaísmo Reformista.

A Câmara e o Senado propuseram sanções, que estão em processo de conferência, para dar origem a um projeto único. Segundo analistas, esse projeto unificado será votado em maio. Ele prevê restrições muito mais rígidas que as sanções da ONU. O objetivo é se concentrar na dependência energética do Irã, que importa 60% da gasolina que consome. O projeto de lei pune todas as empresas que vendem gasolina ou outros bens vitais para o Irã, barrando essas companhias de negócios com os EUA