Título: Coreia do Norte rompe todos os laços com Seul e ameaça com ação militar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2010, Internacional, p. A11

A Coreia do Norte anunciou ontem o rompimento de todos os laços com a Coreia do Sul e ameaçou o vizinho com uma ação militar caso o país continue a invadir as águas sob seu domínio na costa oeste. Um acordo de não-agressão entre as duas Coreias também foi cancelado por Pyongyang, que anunciou ainda a expulsão de trabalhadores sul-coreanos do parque industrial de Kaesong.

No pacote de medidas anunciado pelo regime norte-coreano estão ainda o corte de todas as comunicações com o Sul e o fechamento do espaço aéreo e marítimo da Coreia do Norte para navios e aviões sul-coreanos. O contato diplomático, segundo Pyongyang, não será retomado enquanto o presidente sul-coreano, Lee Myung-bak, estiver no poder - o mandato dele termina em 2012. A Coreia do Norte voltou a classificar o Sul como "principal inimigo", denominação abandonada no âmbito de um pacto de não-agresão assinado em 2004.

A Coreia do Norte é potência atômica e estima-se que ela tenha entre quatro e oito artefatos nucleares em seu arsenal.

Segundo especialistas, apesar da linguagem dura, as medidas não devem afetam o funcionamento do complexo industrial Kaesong, no qual empresas sul-coreanas fabricam produtos em território norte-coreano empregando mão de obra barata.

Lee Jong-joo, porta-voz do governo sul-coreano, informou que 8 diretores estavam sendo expulsos, mas que 800 funcionários sul-coreanos permaneceriam no local, o que indicaria que Pyongyang não deseja paralisar a produção em Kaesong.

A crise atual foi provocada pelo ataque ao navio de guerra sul-coreano Cheonan, em 26 de março, no qual 46 marinheiros morreram. Seul afirma que o torpedo que afundou a embarcação foi lançado de um submarino norte-coreano e exige um pedido de desculpas e a punição dos responsáveis pelo suposto ataque. A fronteira marítima é objeto de disputa entre os dois países e Pyongyang sustenta que ela deveria ser mais ao sul do que é hoje. A linha demarcatória foi definida de maneira unilateral pelas Nações Unidas em 1953, quando foi assinado o armistício que colocou fim à Guerra da Coreia (1950-1953). Desde então, ambos os lados acusam o outro de violação e várias escaramuças entre embarcações dos dois países já ocorreram na região.

Na segunda-feira, Seul anunciou uma série de medidas em retaliação à Coreia do Norte, entre as quais a suspensão de quase todo o comércio bilateral. A Coreia do Sul é o segundo maior parceiro comercial do Norte depois da China - é o destino de 38% das exportações do país.

A Coreia do Sul também pediu que o Conselho de Segurança da ONU adote sanções contra o país em razão do ataque. Tentando ganhar o voto chinês no conselho, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, afirmou ontem, em Pequim, que a manutenção da paz é uma "responsabilidade" comum de EUA e China. "Ninguém é mais preocupado com a paz e a estabilidade na região do que os chineses", disse Hillary.

A China, que tem laços históricos e ideológicos com a Coreia do Norte, tenta manter um equilíbrio delicado entre a boa relação com o isolado vizinho e a pressão da comunidade internacional. Na avaliação de Lee Sang-soon, analista do Instituto Sejong, da Coreia do Sul, a China teme perder sua influência sobre Pyongyang caso concorde com a imposição de sanções severas ao país.

Reação. Os EUA consideraram "estranho" o rompimento anunciado por Pyongyang. "A economia debilitada da Coreia do Norte não suportará sozinha. Não consigo imaginar atitude que prejudique mais os norte-coreanos do que cortar os laços com Seul", afirmou P. J. Crowley, porta-voz do Departamento de Estado.

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