Título: Onda de violência na Jamaica deixa mais de 30 mortos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2010, Internacional, p. A12

Testemunhas afirmam que número de vítimas pode ultrapassar 60 no terceiro dia de confrontos contra extradição de narcotraficante

Pelo menos 31 pessoas, a maior parte civis, morreram nos últimos três dias de confrontos entre gangues e policiais na Jamaica. Segundo fontes hospitalares, o número de mortos pode chegar a 60. A onda de violência atingiu Kingston após a decisão do governo de extraditar o narcotraficante Christopher "Dudus" Coke para os EUA. Mais de 200 foram presos nas buscas pelo criminoso e a cidade permanece em estado de emergência.

As forças de segurança não conseguiram controlar os bairros de Tivoli Gardens e West Kingston, onde Coke tem o apoio em massa da população por ajudar os mais pobres. Segundo o diretor de Comunicações da polícia Karl Angell, 26 civis morreram somente ontem e outras 25 pessoas ficaram feridas. Outros três militares morreram durante as buscas de casa em casa. Nos últimos dias, 18 delegacias foram atacadas.

O primeiro-ministro jamaicano, Bruce Golding, lamentou as mortes por causa da captura de Coke, e prometeu restabelecer a ordem no país.

Gangues de favelas dos arredores da capital uniram-se aos simpatizantes de Coke, erguendo barreiras nas ruas e abrindo fogo contra as forças de segurança. As quadrilhas também atacaram policiais no entorno do hospital de Kingston para onde os corpos das vítimas foram levados.

Testemunhas afirmaram à AFP que três caminhões com cerca de 60 corpos chegaram ontem no hospital público.

O Departamento de Estado dos EUA afirmou que o acesso ao aeroporto da cidade está bloqueado, assim como o trânsito em estradas da região. Várias companhias aéreas cancelaram voos para o país. A operação para a prisão de Coke foi realizada uma semana depois de o governo ceder à pressão dos EUA e assinar a ordem de extradição do traficante. A Justiça americana acusa Coke de liderar a gangue Shower Posse, responsável pela morte de centenas de pessoas nos EUA na década de 1980.

O advogado de Coke, Don Foote, recusa-se a confirmar se o procurado está em Kingston. Segundo Foote, a defesa de Coke pretende se reunir com oficiais americanos. Os EUA não confirmaram a informação.

O Departamento de Estado confirmou que a Jamaica pediu ajuda para conter os distúrbios, como o fornecimento de suprimentos e coletes à prova de balas. Os EUA, porém, ressaltaram que é responsabilidade do governo jamaicano prender e extraditar Coke. Se for condenado pela Justiça americana, Coke pode pegar prisão perpétua.

Envolvimento político. O premiê que contou com o apoio de Coke e foi eleito como representante da região que o traficante controla, inicialmente rejeitou o pedido de extradição, alegando que as provas teriam sido obtidas de forma ilegal.

As autoridades sabem que a sobrevivência política depende do apoio dos homens que controlam as comunidades, como Coke. / AFP, REUTERS e NYT