Título: Pacto turco-brasileiro é última chance para o diálogo, ameaça Ahmadinejad
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2010, Internacional, p. A14
Barganha nuclear. Em discurso televisionado, presidente iraniano afirma que EUA, ao recusar oferta de Teerã à AIEA, estão desperdiçando "oportunidade histórica" para solução negociada; líder ainda subiu o tom contra apoio russo a novas sanções da ONU
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, instou ontem os EUA a aceitar o acordo de troca de urânio por combustível nuclear assinado com Brasil e Turquia, dizendo se tratar da "última oportunidade" de diálogo. "O presidente (Barack) Obama precisa saber que essa é uma oportunidade histórica", disse Ahmadinejad. "Se Obama não aproveitá-la, os iranianos não lhe darão outra."
Ahmadinejad também criticou duramente a Rússia, tradicional aliada do Irã, que desta vez se alinhou com os EUA no apoio a sanções no Conselho de Segurança (CS) da ONU. "Isso é inaceitável para a nação iraniana, espero que eles (os russos) corrijam suas ações", reclamou Ahmadinejad. "Não gostamos de ver nossos vizinhos apoiando aqueles que têm mostrado animosidade contra nós nos últimos 30 anos", continuou. Ahmadinejad disse que a posição do Kremlin levanta dúvidas sobre a aliança Moscou-Teerã. "Não sabemos se os russos ainda são mesmo nosso amigos. Ficou muito difícil justificar o comportamento do senhor (Dmitri) Medvedev", completou Ahmadinejad. Pelo acordo mediado pelo Brasil, o Irã se compromete a enviar 1.200 quilos de seu urânio para o a Turquia. Em troca, receberia, após um ano, 120 quilos de urânio enriquecido a 20%. O combustível seria usado para fins médicos no reator de pesquisas de Teerã. Oferta sincera. O acordo foi rejeitado pelos membros permanentes do CS, que, liderados pelos EUA, estão negociando uma nova rodada de sanções contra o programa nuclear do Irã. Segundo Washington, o grande problema é que o Irã afirmou que vai continuar enriquecendo, sozinho, urânio a 20%, mesmo com o acordo. Na terça-feira, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, rejeitou a oferta que Teerã submeteu por carta à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), dizendo que se trata de um "truque óbvio". A Casa Branca afirma que o acordo alinhavado por Brasil e Turquia foi apenas uma tentativa do Irã de evitar uma nova rodada de sanções na ONU. "Há pessoas no mundo que querem jogar o presidente Obama contra a nação iraniana e deixá-lo em uma posição sem volta, na qual o caminho para a amizade com o Irã estará bloqueado para sempre", disse ontem Ahmadinejad. "Se os EUA e seus aliados são sinceros quando dizem estar em busca de cooperação, eles deveriam aceitar essa oferta", continuou. "Mas se eles ficarem procurando desculpas, devem saber que o caminho para qualquer interação estará fechado." Os EUA afirmam já ter votos suficientes no CS para aprovar novas sanções. Washington estaria tentando angariar mais apoio apenas para reforçar a legitimidade das medidas.