Título: Europeus anunciam mais corte de gastos
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2010, Economia, p. B6

Ontem foi a vez de o Reino Unido e a Alemanha apresentarem pacotes de austeridade fiscal; com as medidas, sindicatos alertam que vão protestar

CORRESPONDENTE / GENEBRA - O Estado de S.Paulo

O novo governo britânico anunciou ontem um corte de gastos de 7,2 bilhões. Enquanto isso, a Alemanha prepara um plano para reduzir seus gastos em mais de 10 bilhões. As medidas anunciadas fazem parte de uma onda de corte de orçamentos anunciados em toda a Europa para tentar dar uma resposta aos déficits públicos que colocam em risco a estabilidade do euro.

No Reino Unido, o corte é 283 milhões maior do que o primeiro-ministro, David Cameron, havia anunciado durante a campanha. Ontem, seu governo anunciou que isso é só o início e que o déficit é de 181 bilhões. O buraco representa 11,1% do Produto Interno Bruto (PIB), um dos maiores da União Europeia

Entre as medidas anunciadas, está o fim de contratações de funcionários públicos por um ano, o que economizaria 189 milhões. A imprensa britânica chegou a alertar que as medidas representariam a demissão de 300 mil pessoas, o que foi negado pelo governo.

Foram ainda retirados de programas de apoio a trabalhos temporários, 337 milhões. Os sindicatos já denunciaram as medidas. O poderoso TUC alertou que o momento não é de cortes de gastos para o setor público, sob o risco de nova recessão.

Na Alemanha, o corte total deve ser feito até 2016. Entre as medidas está o corte de seguro desemprego em 50%. "Temos de nos ajustar", afirmou o ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble.

Otto Fricke, especialista em orçamento da coalizão de Angela Merkel, deixou claro que não há ainda um acordo sobre como ocorrerá o corte de orçamento. Mas nem educação nem fundos de pensão serão afetados. A idade de aposentadoria deve aumentar de 60 para 65 anos para as mulheres e de 65 para 70 anos para os homens. Desempregado que recebe ajuda financeira terá mais dificuldades para continuar recebendo o benefício.

Na Itália, o governo enviará hoje ao Parlamento projeto de lei com medidas que devem resultar em cortes de ? 24 bilhões nos próximos dois anos. "Não haverá elevação de impostos. O mesmo se aplica às pensões", assegurou Paolo Bonaiuti, porta-voz do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.

As medidas mais importantes, segundo uma fonte no Tesouro italiano, envolvem cortes de ? 6 bilhões nos gastos com funcionalismo, com os cortes restantes vindos de reduções nos repasses a governos locais, da redução de uma isenção a impostos corporativos e do que o governo qualificou como "racionalização dos gastos" com saúde pública. Também aumentará o cerco aos sonegadores de impostos.

Na França, o governo de Nicolas Sarkozy parte para elevar a idade mínima da aposentadoria. Benefícios extras para quem tem mais de três filhos podem ser também cortados. Uma greve está sendo organizada para quinta-feira.

O governo socialista espanhol cortou 300 milhões em ajuda a pessoas com algum tipo de limitação, congelou salários e demitiu funcionários públicos, além de fechar estatais. Em Portugal, benefícios sociais também devem ser afetados com as reformas.