Título: Lula e Erdogan voltam a criticar EUA e a defender acordo
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2010, Internacional, p. A12

Líder turco qualifica de "invejosos" os que rejeitam o pacto com Teerã e brasileiro diz que prazo tem sido cumprido

Dez dias após conseguirem a assinatura do acordo com o Irã e, no dia seguinte, testemunharem as potências que participam do Conselho de Segurança da ONU defenderem sanções contra Teerã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o premiê da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, criticaram os EUA, em entrevista no Palácio do Itamaraty.

"O acordo de Teerã foi uma vitória diplomática e aqueles países que criticam o processo são invejosos", declarou Erdogan, ao lado de Lula, que, por sua vez, emendou lembrando que "todos os prazos e datas estão sendo cumpridos" pelo Irã. Para o presidente brasileiro, "a declaração de Teerã constitui uma oportunidade que não pode ser desperdiçada". Lula e Erdogan demonstraram disposição de continuar intermediando esta negociação "até o fim".

O presidente pediu que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) "tenha a sabedoria de entender o momento político, que tenha a sabedoria de entender o gesto do Irã, que tenha a sabedoria de entender o sacrifício que foi feito pela Turquia e pelo Brasil". Erdogan ainda salientou que "todos que mostram reação negativa (ao acordo) têm armas nucleares". Lula completou dizendo que se os membros permanentes do CS não tivessem armas nucleares, o diálogo com Teerã seria "mais fácil".

"Se o Irã cumprir (o acordo), e tudo indica que vá cumprir, não achamos certo falar em sanções neste momento", afirmou o primeiro-ministro turco.

"Se eu puder dar conselho a alguém, é que só haverá acordo se quem estiver em volta da mesa, negociando, sair de casa de manhã para negociar com a cabeça aberta para negociar", disse Lula, lembrando que passou dois terços da sua vida negociando. "Se a pessoa não estiver disposta e com boa vontade de fazer acordo, não haverá acordo."

Mensagem. O primeiro-ministro turco confirmou que, a exemplo do presidente Lula, também recebeu do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, uma carta sobre os termos das negociações com o Irã, sem entrar em detalhes do seu conteúdo.

No discurso feito ao lado de Erdogan, o presidente Lula afirmou ainda que "a flexibilidade e não o dogmatismo aproxima os povos" e "é o engajamento construtivo, não o isolamento e a punição que nos leva ao entendimento".

O presidente brasileiro voltou a defender também mudanças na ONU e nas instituições financeiras de Bretton Woods. Na opinião dele, elas "requerem reformas para deixarem de ser uma sombra distorcida de um passado há muito superado".