Título: Rusga Caracas-Bogotá favorece Brasil
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2010, Internacional, p. A20

Às vésperas da eleição colombiana, candidatos traçam estratégia para reverter perdas com a redução do comércio com a Venezuela

O Brasil é um dos principais mercados nos quais a Colômbia aposta para diversificar suas parcerias econômicas e comerciais depois do congelamento das relações com a Venezuela. No entanto, também há entre os empresários colombianos certa percepção de que os brasileiros estariam lucrando com a disputa entre Bogotá e Caracas.

Às vésperas da eleição de amanhã, os dois principais candidatos à presidência traçam suas estratégias para recuperar o mercado de consumo venezuelano, que, em grande parte, o Brasil ocupou. Compensar o grande impacto do congelamento de relações com a Venezuela será um dos maiores desafios do próximo governo.

Antanas Mockus, o candidato opositor e ex-prefeito de Bogotá, promete melhorar as relações com o país vizinho em conversas diretas com o presidente Hugo Chávez - num primeiro momento, ele descarta a possibilidade de uma mediação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Chávez simpatiza com Mockus, o que pode favorecer a distensão.

Já Juan Manuel Santos, candidato governista, diz que também pretende melhorar as relações com o vizinho. Mas, como é tido como um dos principais inimigos de Chávez, espera-se que, no curto e médio prazo, mantenha a estratégia do governo atual de diversificar as parcerias para substituir o comércio com a Venezuela.

"Há um ressentimento numa parte dos empresários colombianos, segundo a qual, em vez de ajudar a resolver o problema, o Brasil está lucrando com ele, aproveitando para expandir suas vendas para a Venezuela e a Colômbia", diz o economista da Universidade dos Andes Alejandro Gaviria. Ou seja, o que o presidente Lula chama de pragmatismo, às vezes, é percebido pelos vizinhos como oportunismo.

A Venezuela é o segundo maior parceiro comercial da Colômbia, depois dos EUA (que compra do país principalmente petróleo). De acordo com a Câmara Colombiano-Venezuelana, 250 mil famílias colombianas vivem da troca entre os dois países. Em julho, Chávez anunciou que tomaria uma série de medidas para que as exportações da Colômbia "chegassem a zero", em retaliação à assinatura do acordo militar que permite aos EUA usar sete bases militares colombianas.

As medidas, como barreiras fitossanitárias e atrasos na liberação de divisas para o pagamento dos exportadores, são classificadas por autoridades colombianas como um "embargo comercial".

Só no primeiro trimestre deste ano, as vendas da Colômbia para o país vizinho caíram 73% em relação ao mesmo período no ano passado. A Companhia Colombiana Automotriz chegou a cortar 800 empregos por causa da redução da demanda.

Segundo Gaviria, o prejuízo este ano deve ser de US$ 3,5 bilhões para a Colômbia, o que já está afetando a expansão do PIB - o país deve crescer apenas 2,5% esse ano, menos que a média da América Latina, de 4%.

A estratégia do atual governo para contornar o problema é diversificar as parcerias comerciais. Graças a busca de novos mercados, as exportações colombianas para o Brasil cresceram 61% e as importações 10% até abril deste ano.

O desenvolvimento da parceria também tem aumentado o interesse dos investidores brasileiros, principalmente no setor de infraestrutura. A Odebrecht, por exemplo, participará da construção da estrada conhecida como Rota do Sol, que ligará Bogotá ao litoral caribenho.