Título: Israel admite erros em operação militar
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2010, Internacional, p. A11

Imprensa israelense critica governo e Marinha, que reconhece que houve falhas de inteligência, estratégia e na escolha do equipamento para a ação

JERUSALÉM - O Estado de S.Paulo Militares israelenses reconheceram ontem que cometeram erros durante a abordagem de uma frota internacional que levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Comandos militares invadiram um dos navios e mataram pelo menos nove ativistas. Os erros, segundo autoridades de Israel, foram de inteligência, estratégia e na escolha dos equipamentos utilizados na operação.

Um dia após o confronto, fontes da Marinha de Israel apontaram falhas de inteligência. "Não esperávamos essa resistência dos ativistas, já que estávamos falando de um grupo de ajuda humanitária", disse o comandante da equipe de embarque, um tenente não identificado, que recebeu autorização para falar à rádio do Exército.

Embora a polícia de Israel tenha colocado os ativistas presos em uma espécie de "quarentena", impedindo a divulgação de depoimentos divergentes, um vídeo filmado por um dos passageiros do navio invadido mostrou dois soldados levando socos.

O Exército israelense também divulgou imagens de meia dúzia de soldados lutando contra cerca de 30 ativistas. Os vídeos aumentaram a descrença da população. Jason Alderwick, especialista em guerra marítima do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, criticou a operação da Marinha israelense.

"O sucesso começa com o planejamento e uma inteligência decente. Eles já haviam abordado esse tipo de navio antes", afirmou. "Desta vez, eles não foram duros o suficiente, rápidos o suficiente e não tinham um contingente grande o suficiente para estabelecer o controle."

A imprensa israelense também não perdoou o governo. Os termos mais amenos para definir a ação foram "confusão" e "fiasco". Segundo a maioria dos jornais, o fracasso da ofensiva erodiu a confiança da população de uma maneira muito parecida à da Guerra do Líbano de 2006.

Críticas. Yossi Sarid, do jornal Haaretz, escreveu um duro artigo intitulado Sete idiotas no gabinete, em referência aos ministros do premiê Binyamin Netanyahu. Um comentarista de TV pediu a demissão do ministro da Defesa Ehud Barak.

Pressionado, Israel prometeu investigar a desastrosa operação militar, mas continuou insistindo ontem que foram os ativistas que provocaram o derramamento de sangue, o que para boa parte da população e dos analistas locais só piora a imagem do governo. / REUTERS e AP