Título: Produção industrial cai 0,7%, mas é só 'acomodação'
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2010, Economia, p. B3

Primeiro quadrimestre, porém, fecha com alta de 18%, o melhor resultado da história para o período; em 12 meses, alta é de 2,3%

RIO

A produção industrial interrompeu, em abril, trajetória de quatro expansões consecutivas e caiu 0,7% em relação a março. A queda, avaliada como uma "acomodação" pelo economista André Macedo, do IBGE, não evitou aumentos em todas as demais bases de comparação. O setor fechou o primeiro quadrimestre deste ano com uma alta de 18%, o melhor resultado para o período da história. Em 12 meses, o crescimento foi de 2,3%, o primeiro dado positivo no indicador desde janeiro de 2009.

Macedo explica que o resultado negativo em comparação a março foi puxado pela categoria de semi e não duráveis (alimentos, bebidas, perfumaria), sobretudo bebidas, e deve ser avaliada "como uma acomodação após um período de expansão". Segundo ele, "não há reversão da trajetória ascendente da indústria, como confirmam o índice de média móvel trimestral e os resultados comparativos a igual mês do ano passado", disse.

De acordo com o instituto, o índice de média móvel trimestral, considerado o principal indicador de tendência subiu 1,4% em abril. A produção da indústria aumentou 17,4% ante igual mês de 2009.

Base de comparação. Mas a categoria de semi e não duráveis, voltada para o mercado interno e a menos afetada pela crise que se abateu sobre o setor industrial no fim de 2008, registrou queda de 0,8% na produção em abril em relação a março, sob impacto sobretudo das bebidas, cuja produção caiu 11% nessa comparação. Segundo Macedo, o recuo nesse segmento deve ser visto como uma acomodação sob efeito de uma base de comparação muito elevada, já que houve aumento de mais de 7% em março ante fevereiro.

Analistas, entretanto, avaliam os resultados da indústria de abril como um esperado sinal de desaceleração após o forte crescimento registrado no fim do ano passado. Luiza Rodrigues, economista do Santander, afirma que os dados mostram uma "acomodação temporária" em cenário de forte crescimento do início do ano.

Para ela, os dados "são consistentes com nossa previsão de um ritmo menor de crescimento no segundo quadrimestre, mas isso não significa alívio para a inflação, como a utilização da capacidade já está perto de níveis máximos e desemprego está no nível mais baixo em 15 anos".

A economista mantém a projeção de aumento acumulado de 13,6% na produção do setor este ano.

O analista da Tendências Consultoria, Bernardo Wjuniski observou que os resultados confirmam a expectativa de "alguma desaceleração ao longo do ano, por conta do cenário de retirada dos estímulos fiscais e monetários". No entanto, ele espera que o crescimento anual "deve ser robusto", chegando a 11%.