Título: Pressionado, Israel estuda meios de flexibilizar bloqueio marítimo de Gaza
Autor: Watkins, Nathalia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2010, Internacional, p. A10

Pressão diplomática. Após conversa com Blair, Netanyahu reúne seu gabinete para estudar "soluções criativas" para o cerco imposto ao território palestino, as quais aliviariam o drama humanitário palestino, sem deixar que o Hamas consiga rearmar-se

O gabinete de Israel reuniu-se na ontem em busca de "soluções criativas" ? nas palavras do próprio premiê, Binyamin Netanyahu ? ao bloqueio à Faixa de Gaza. Israel está sob crescente pressão para levantar o cerco ao território desde a tragédia que envolveu a Frota da Liberdade. O encontro, porém, ocorreu enquanto mais um navio com suprimentos, desta vez o irlandês Rachel Corrie, aproximava-se de Gaza.

Netanyahu voltou a afirmar que a embarcação será direcionada ao Porto de Ashdod, no sul de Israel. Segundo o premiê, "nem hoje, nem no futuro" Israel permitirá que navios furem o bloqueio. Ele disse, porém, que os mantimentos a bordo do barco irlandês serão entregues ao território após serem inspecionados.

As "soluções criativas" deveriam facilitar a entrada de ajuda humanitária, garantindo, no entanto, que o alívio do bloqueio não aumente o contrabando de armas ao Hamas. O grupo islâmico controla Gaza desde 2007, quando expulsou o rival Fatah do território mediterrâneo.

Segundo o Canal 2 da TV israelense, a ideia de reavaliar o cerco foi inicialmente discutida em uma reunião em Tel-Aviv entre Netanyahu e o ex-premiê britânico Tony Blair, atual enviado ao Oriente Médio do quarteto (grupo formado por EUA, Rússia, União Europeia e ONU).

"Israel tem a obrigação de impedir a entrada de mísseis e foguetes em Gaza e de inspecionar todas as embarcações que tenham capacidade de contrabando", disse ao Estado uma fonte próxima a Netanyahu. "Paralelamente, queremos permitir a entrada de cargas civis."

O primeiro-ministro israelense estaria ainda considerando a possibilidade de envolver organizações internacionais no processo de inspeção dos carregamentos enviados a Gaza, revelou ontem o jornal israelense Haaretz.

Outra indicação de que Israel está flexibilizando suas posições foi dada pelo chanceler de Israel, Avigdor Lieberman. Ele acatou uma sugestão feita por americanos e europeus de realizar um inquérito independente do caso que inclua inspetores internacionais. "Israel não tem nada a esconder", disse Lieberman, uma das vozes mais radicais no gabinete israelense.

Em uma inversão de papéis, a líder da oposição israelense, a centrista Tzipi Livni, foi mais dura. Para ela, Israel deve "deixar do lado de fora da porta de entrada uma comissão de investigadores internacionais".

Pressão discreta. A decisão israelense de voltar a debater o bloqueio a Gaza seria também o resultado de esforços americanos. Segundo disseram funcionários dos EUA ao New York Times, o governo de Barack Obama vê a atual crise como uma oportunidade para pressionar israelenses na mesa de negociações e reduzir o drama humanitário palestino. "Não há dúvidas de que uma nova abordagem à questão de Gaza é necessária", disse uma fonte que pediu anonimato.

Em entrevista ao programa de Larry King, na CNN, Obama disse que o incidente da Frota da Liberdade foi "trágico", mas dava uma oportunidade para relançar os esforços de paz no Oriente Médio. Obama afirmou que Israel tem "preocupações legítimas de segurança", mas o bloqueio mina "oportunidades econômicas" dos palestinos