Título: No 2º trimestre, ritmo segue forte
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2010, Economia, p. B3

Segundo especialistas, a economia não está crescendo numa velocidade tão rápida quanto no 1º trimestre, mas se acomodou em um patamar alto

É consenso entre economistas que o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre vai crescer em ritmo menor do que o registrado entre janeiro e março em razão da retirada do incentivos fiscais e da própria base forte de comparação. Mas indicadores preliminares de ritmo de atividade não atestam que esteja ocorrendo uma desaceleração e sim uma acomodação da economia num nível elevado. Isso requer a alta de juros para conter pressões inflacionárias.

"O ritmo de crescimento da economia hoje não é mais chinês, mas está acima da média de 4,5%, que gera pressões inflacionárias", afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Só pelo recuo de 0,7% da produção industrial de abril em relação a março, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não é possível afirmar que esteja ocorrendo uma forte desaceleração, diz.

Segundo o diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, os dados de atividade do segundo trimestre que começam a ser divulgados revelam uma "certa acomodação na margem" em razão da retirada de incentivos fiscais, como a volta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os bens duráveis (carros e eletrodomésticos da linha branca).

Além da volta do IPI, a frustração das expectativas sobre o desempenho das exportações é outro fator que reduziu o ritmo de crescimento no segundo trimestre. "Seis meses atrás, o mercado estava mais otimista em relação ao desempenho externo. A crise europeia reduziu o ímpeto de crescimento das exportações", lembra o economista. Apesar dessas mudanças, ele ressalta que o Banco Central vai continuar elevando a taxa básica de juros.

Luiza Rodrigues, economista do Banco Santander, vê indícios de crescimento menor do ritmo de atividade neste trimestre, em razão da retirada dos incentivos fiscais e da base forte de comparação que é o segundo trimestre do ano passado. De toda forma, ela pondera que, mesmo com a volta do IPI, as vendas de automóveis recuaram mas continuam em níveis equivalentes ao período pré-crise.

Em maio, por exemplo, as vendas de automóveis somaram 182 mil unidades. Em agosto de 2008, antes do início da crise financeira internacional, que eclodiu no mês seguinte, as vendas de automóveis atingiram 188 mil unidades. "Não dá para dizer que há uma freada porque o nível ainda é elevado."

Na semana passada, a Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) registrou que o Nível de Utilização da Capacidade (Nuci) caiu em maio pela primeira vez desde fevereiro de 2009. No mês passado, as fábricas usavam 84,9% da sua capacidade produtiva, 0,2 ponto porcentual a menos que em abril. De acordo com Luiza, esse pequeno recuo não traz o indicador para níveis confortáveis. "O Nuci ainda é um dos mais altos da história", diz a economista. Segundo ela, esse cenário da atividade associado à taxa de desemprego atual, que é a mais baixa dos últimos 15 anos, acaba fomentando pressões inflacionárias. Isso justifica a continuidade da alta dos juros.

"O PIB do primeiro trimestre deve vir muito forte. Só pelo efeito carry over (a influência de um período sobre o outro) justificaria a alta dos juros", diz o analista da Tendências Consultoria, Rafael Bacciotti.

Nas contas da consultoria o PIB do primeiro trimestre cresceu 2,5% em relação ao último trimestre de 2009. "A atividade está se acomodando. Ainda não temos sinais claros de desaceleração."