Título: Hungria admite crise grave e assusta mercados
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2010, Economia, p. B7

Governo húngaro diz que houve manipulação de dados e afirma que vai apresentar um plano para evitar que o país siga o mesmo caminho da Grécia

BUDAPESTE O governo da Hungria reconheceu ontem que a situação econômica é muito grave e apresentará um plano para evitar que o país siga o mesmo caminho da Grécia. Em declarações à agência local MTI, o porta-voz do novo governo húngaro, Peter Szijjarto, afirmou que a "economia (do país) está em uma situação muito grave" .

O porta-voz assegurou que o governo anterior "manipulou os dados (sobre o estado real da economia), assim como fez a Grécia". O novo governo do conservador Viktor Orban assumiu na semana passada o poder, após as eleições em que seu partido, o Fidesz, obteve a maioria parlamentar.

Szijjarto disse que "a economia está em uma situação muito grave" e acrescentou que não é exagero falar que o país está próximo da falência.

Os mercados reagiram mal. O euro se desvalorizou com força frente à moeda americana ao nível mais baixo em mais de quatro anos, por preocupação com o endividamento dos países da zona do euro e do Leste Europeu, o que também contribuiu para derrubar as bolsas.

No fechamento dos pregões, a Bolsa de Londres teve queda de 1,63%; Frankfurt caiu 1,91%; Paris recuou 2,86%; e Madri perdeu 3,8%. Já a Bolsa de Budapeste registrou baixa de 3,34% e o forint (moeda húngara) se desvalorizou ao nível mais baixo no ano em relação à divisa europeia. Nos Estados Unidos, o Índice Dow Jones fechou em queda de 3,15% e o Nasdaq, 3,64%. A queda das bolsas também está associada aos números do mercado de trabalho americano que, embora positivos, ficaram aquém do esperado.

O novo governo anunciou que deve publicar neste fim de semana ou no início da semana que vem o "verdadeiro" estado do orçamento. O vice-presidente do partido da situação Fidesz, Lajos Kosa, foi citado pelo site de notícias napi.hu dizendo que o novo governo encontrou as finanças públicas em situação muito pior que a esperada.

Acusação. Szijjarto disse que o governo anterior falsificou dados econômicos. "O governo anterior da Hungria falsificou dados. Na Grécia, eles também falsificaram dados."

As medidas de austeridade e os aumentos de impostos que o governo socialista tentou implementar no passado fracassaram, declarou o porta-voz. Ele afirmou que cortes de impostos não serão adiados, mesmo com a perspectiva de um déficit orçamentário maior.

A Comissão Europeia pediu na quinta-feira para que a Hungria reduzisse seu déficit orçamentário mais rapidamente, enquanto funcionários do governo reiteraram que o buraco fiscal de 2010 pode chegar a quase o dobro da meta estipulada com os credores do país, incluindo a União Europeia.

O banco central disse que o déficit poderia ser de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), ou 4,3% se o governo congelar reservas orçamentárias remanescentes. Analistas veem um déficit de 5%.

O novo governo de centro-direita vem alertando nas últimas semanas que o déficit de 2010 poderá ser muito superior à meta acordada de 3,8% do PIB, culpando "esqueletos fiscais" deixado pela administração anterior socialista. "O governo está jogando agora um jogo muito perigoso com a confiança dos investidores", disse Timothy Ash, do Royal Bank of Scotland. "Pode haver a tentação de falar sobre os riscos de moratória para trabalhar domesticamente expectativas sobre a necessidade da manutenção da austeridade fiscal, mas isso não cai bem com os investidores."