Título: Petrobrás quer mudar contratos de gás
Autor: Ciarelli, Mônica
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2010, Economia, p. B6

Ideia é aproveitar a maior oferta, com o que não estiver sendo usado para térmicas e baixar a média de preços para as distribuidoras

A Petrobrás vai propor mudanças aos contratos de fornecimento de gás natural para as distribuidoras de gás canalizado. O objetivo é aproveitar a maior flexibilidade da oferta, com gás que não estiver sendo usado para térmicas, para baixar a média de preços do combustível. Os contratos vencem em 2012 mas, já no ano que vem, a estatal quer começar a negociar os novos termos.

As distribuidoras brasileiras pagam hoje o dobro do preço vigente no mercado de curto prazo americano, que vem sofrendo com o excedente de oferta após a conclusão de projetos de gás natural liquefeito ao redor do mundo e com a tecnologia de produção de gás de xisto nos Estados Unidos. Para especialistas, os altos preços nacionais dificultam a busca por novos clientes.

Em entrevista concedida ontem, a diretora de gás e energia da Petrobrás, Graça Foster, disse que o cenário energético para os próximos anos aponta para uma maior entrada de energia hidrelétrica no País, com menor aproveitamento do gás. Por isso, a empresa busca novas modalidades flexíveis de venda de gás, que aproveite o combustível que não estiver direcionado ao setor elétrico.

"Certamente, os contratos agora não serão 100% firmes e inflexíveis porque isso obriga um custo que não há necessidade de pagar", explicou ela. "Por que você vai querer um contrato de cinco ou dez anos? Ele paga um preço de gás mais alto, porque o preço de gás de longo prazo precisa considerar vários riscos. Cada risco que eu considero é preço mais alto", completou.

A partir de 2013, destacou Graça, as térmicas devem operar com apenas 30% de sua capacidade, liberando maiores volumes de gás para o mercado flexível. Segundo ela, o cliente não vai querer ficar engessado em contratos de garantia firme em um cenário de preço de gás baixo até 2020. Atualmente, a empresa tenta desovar esses volumes em leilões de curto prazo.

Excedente. A renegociação dos preços do gás é esperada pelo mercado, diante do excedente de gás natural no Brasil - há poços fechados no Espírito Santo e as importações da Bolívia, às vezes, se reduzem abaixo do mínimo contratado. "Acredito que já exista uma pressão da indústria por buscar novos preços", disse anteontem o consultor Marco Tavares, diretor da consultoria Gas Energy.

Graça ressaltou que a companhia criou há três meses uma área específica dentro da companhia para cuidar de contratos de fornecimento de energia de curto prazo, no sentido de trabalhar a flexibilização dos contratos.

Petróleo. O diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, afirmou ontem que o governo tem interesse em promover a 11.ª Rodada de licitação de áreas para exploração e produção de petróleo ainda este ano. A ideia é oferecer áreas em águas rasas, águas profundas e em terra - fora das áreas do pré-sal.

"O governo quer fazer a rodada porque não pode ficar circunscrito às altas expectativas do pré-sal", disse Lima. Ele informou que, no fim de junho, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) vai discutir o tema. Caso a 11.ª Rodada seja aprovada no conselho, o edital pode sair em julho. "Já está tudo pronto", disse, referindo-se à documentação para a licitação.

Lima também informou que o segundo poço perfurado pela ANP na Bacia de Santos, batizado de Libra - que faz parte do processo de cessão onerosa de reservas da União à Petrobrás - "é muito melhor do que o primeiro", em volume de reservas. O primeiro poço, batizado de Franco, tem reservas recuperáveis de petróleo de 4,5 bilhões de barris. Libra fica a 32 quilômetros a nordeste de Franco.

Caso as projeções da ANP sobre o segundo poço se confirmem, a ANP pode encontrar um volume muito superior aos 5 bilhões previstos na cessão onerosa. Porém, o diretor-geral da ANP comentou que o governo ainda não sabe qual será o procedimento para tratar do volume de óleo excedente. Ele não descartou, no entanto, a possibilidade de que o excedente possa ser incluído em futuros leilões que envolvam áreas do pré-sal.

As reservas descobertas nos dois poços serão negociadas com a Petrobrás dentro do processo de cessão onerosa, que faz parte da capitalização da companhia. / COLABOROU ALESSANDRA SARAIVA