Título: PIB exuberante
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2010, Economia, p. B2

Desta vez, o PIB veio com exuberância asiática. Mas é bom não exagerar.

É preciso descartar projeções com base nos resultados do primeiro trimestre. Se o crescimento da economia, de 2,7%, se repetisse nos três trimestres seguintes, teríamos padrões chineses de aumento de renda, um avanço do PIB em 2010 de 11,2%.

E não se podem fazer projeções lineares porque alguns fatores deixaram de atuar a favor. A reversão das renúncias fiscais (redução de IPI para veículos e aparelhos domésticos), por exemplo, está derrubando a produção desses setores. Além disso, o Banco Central passou a apertar a política monetária (aumento dos juros), fator que, por sua vez, deverá segurar a expansão da atividade econômica.

No primeiro trimestre o PIB estava crescendo 9,0% em relação ao primeiro trimestre de 2009 e provavelmente deve cravar no final do ano uma expansão em torno de 6,5%. A pesquisa Focus mostra que o mercado financeiro está apostando em um avanço de 6,6% para 2010.

A expansão do PIB no primeiro trimestre deste ano sobre o anterior foi de 2,7%. Mas teve força de 3,0% porque o IBGE reviu para mais (de 2,0% para 2,3%) o desempenho do trimestre anterior.

Questão crucial consiste em saber se a economia tem capacidade para sustentar o ritmo, não propriamente de 11,0% ao ano, mas de 7,0%. Até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está reconhecendo que não dá. Em linguagem técnica, trata-se de saber a quantas anda o PIB potencial, ou seja, a quantas anda a capacidade de manter o ritmo. É conta difícil. Os economistas parecem a meio caminho entre o que o Banco Central sugeria há alguns anos, que era 3,5%, e o que alguns chutadores apontavam, algo em torno de 7,0%. Mas não há cálculos exatos.

Ontem, o economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, admitia que esse número está entre 4,5% e 5,0%, fator que dá força à argumentação do Banco Central de que é preciso segurar o consumo das famílias por meio de alta dos juros, para que não aumente a inflação de demanda, situação em que a procura por bens e serviços cresce mais do que a capacidade de oferta da economia e puxa pela alta dos preços.

Quem critica essa disposição do Banco Central se apega ao dado que aponta bom nível de investimento (Formação Bruta de Capital Fixo), de 26,4%. Mas é preciso cuidado com esse número. Primeiro, porque cerca de 40,0% correspondem a avanço da construção civil, item que em geral não aumenta a capacidade de produção. E, segundo, porque todo investimento tem um tempo de maturação. Uma fábrica nova, por exemplo, leva dois, três ou mais anos de investimento, para só então começar a produzir.

Se já era forte a resistência dos ministros em cortar gastos quando a expectativa era crescer 5,5%, maior será agora quando o avanço do PIB vai para 7,0% e deve proporcionar aumento correspondente de arrecadação. Às vésperas das eleições, a pressão sobre o caixa deve aumentar.

Num mundo ainda mergulhado na crise, a um ritmo produtivo mais próximo do devagar-quase-parando do que de forte recuperação, essas novas estatísticas sobre o desempenho da economia brasileira deverão impressionar e empurrar para cá mais capital de investimento.