Título: PIB com ritmo acima do potencial do Brasil
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2010, Economia, p. B2

O crescimento de 2,7% do PIB, no primeiro trimestre do ano, em relação ao quarto trimestre do ano passado, e de 9%, ante o mesmo período de 2009, mostra uma economia superaquecida e, sem dúvida, acima do seu potencial. Seríamos tentados a dizer que se trata de um PIB para anabolizar a campanha eleitoral da situação.

Os dados divulgados pelo IBGE apresentam equilíbrio no crescimento dos diversos setores e nos componentes da demanda, como se verificaria num país como a China, do qual nos aproximamos em taxa de crescimento. Fato positivo é que o maior crescimento foi o da indústria de transformação, com 17,2%, sobre o mesmo trimestre de 2009. Ultrapassou o do consumo das famílias, de 9,3%, eliminando assim o descasamento que preocupava as autoridades monetárias. Mas isso reflete a crise pela qual passou a indústria, agora utilizando a sua capacidade de produção ociosa e reduzindo os estoques acumulados durante a crise.

Outro fato positivo foi o aumento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), isto é, dos investimentos, que cresceram 26,9% em relação ao mesmo trimestre de 2009, mas apenas 7,4% ante o quarto trimestre do ano anterior. Atrás desses resultados está a maior dinamização do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que o governo petista escolheu como emblema da campanha política.

A alta dos investimentos tem, todavia, sua contrapartida na fraca relação da FBCF com o PIB: de apenas 18%, ante 18,1% no primeiro trimestre de 2008, e de 19%, no de 2009. Um outro fator de preocupação é a relação entre poupança e PIB. No primeiro trimestre foi de apenas 15,8% - ante o nível máximo mais recente, de 18,2%, no primeiro trimestre de 2004 - e que, para comparar, é de 40% na China. Há que elevar muito mais os investimentos para não termos de recorrer à poupança externa.

Isso mostra que a taxa de crescimento da economia está acima do nosso potencial: de uma taxa anualizada ligeiramente superior a 9%, teremos de reduzir o PIB, sensivelmente, nos próximos meses, sob pena de elevarmos as dívidas externa e interna a um nível insuportável, ao mesmo tempo que estaremos criando uma forte pressão inflacionária.

O Banco Central, na sua reunião do Comitê de Política Monetária hoje, deverá elevar a taxa Selic. A marcha da economia também vai contribuir para conter o crescimento, com preços mais elevados - o que já se refletiu nos dados sobre a produção industrial de abril.