Título: Crescimento perde só para o da China
Autor: Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2010, Economia, p. B4

Alta de 9% em comparação ao primeiro trimestre de 2009 supera o de países como Índia (8,5%) e Rússia (4,5%), mas fica atrás da China (11,9%)

RIO

O crescimento de 2,7% do PIB brasileiro no primeiro trimestre de 2010 ante o quarto trimestre de 2009 foi um dos maiores do mundo para o período. Na comparação com igual período em 2009, quando a economia do País cresceu 9% nos primeiros três meses, esta taxa de elevação só não superou a alta do PIB da China, que foi de 11,9%, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em uma lista de 17 economias, o PIB do Brasil foi o que teve o maior crescimento no primeiro trimestre deste ano ante o quarto trimestre de 2009. No período, o crescimento brasileiro superou o de países como Canadá (1,5%), Japão, (1,2%), Estados Unidos (0,8%) e França (0,1%). Chile (-1,5%), Grécia (-0,8%) e México (-0,4) registraram variação negativa de seus PIBs.

Como China e Índia não divulgam dados que eliminam os efeitos sazonais no cálculo do PIB, o IBGE usou outro parâmetro para comparar os países do Bric, grupo do qual Brasil e Rússia também fazem parte. Comparando-se o primeiro trimestre deste ano a igual período do ano anterior, o Brasil fica na frente da Índia e da Rússia, que tiveram crescimento de 8,6% e 4,5% no período, respectivamente.

Mais investimentos. Para o economista Paulo Levy, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o crescimento do Brasil é positivo, pois vem acompanhado de aumento da taxa de investimento. Ele afirma, porém, que o País deve se preocupar com a sustentabilidade do crescimento, ainda baixa. "Esse crescimento não é sustentável dada a taxa de investimento de 18%, embora ela provavelmente vá crescer mais que o PIB nos próximos trimestres."

A avaliação é a mesma de Rogério Sobreira, professor de economia e finanças da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Ebape - FGV). "A economia se recupera com exuberância, porém a questão é até que ponto o País suportará um crescimento como esse. Abrimos o debate sobre nosso potencial de expansão, pois há risco de bolha e inflação. Manter esse ritmo sem pressionar preços é impossível."

Segundo Sobreira, para o Brasil suportar crescimento de 9% é necessário expandir ainda mais o porcentual de investimento do PIB. "O investimento, que hoje representa 18% do PIB, precisaria chegar a 22% para mantermos, de forma salutar, o crescimento de 9% ao ano." Ele acrescenta que o custo do capital, a carga tributária e o nível de eficiência da educação são gargalos que impedem o Brasil de alcançar a marca de 22%.

Riscos. Já na avaliação de Levy, uma taxa de investimento de 23% do PIB permitiria ao País crescimento anual sustentado de apenas 5%. Segundo o economista, a China investe 36% do PIB para garantir crescimento médio de 8% a 9% ao ano. A perspectiva, de acordo com Levy, é de que a taxa de investimento do Brasil chegue a 18,5% no fim do ano, pouco mais da metade do investido pelo gigante asiático.

"Uma vez atingidos os níveis normais de utilização da capacidade instalada da indústria, só se cresce se houver investimento. Se não houver investimento, há riscos de um déficit externo muito grande e de inflação", diz Levy. E há setores em que não é possível importar, como serviços.