Título: Santos tenta atrair rivais para 2º turno
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2010, Internacional, p. A14
Ampla vitória de governista reduz chances de Mockus em segunda etapa da votação e ambos candidatos fazem ajustes nas campanhas
A campanha pelo segundo turno das eleições colombianas prometia ser uma das mais disputadas desde que o país instituiu a possibilidade da votação em duas etapas, em 1991. Mas, com a ampla vitória do governista Juan Manuel Santos no domingo, essa expectativa foi por terra.
Ontem, o governista abriu a campanha pelo segundo turno fazendo a oferta de um governo de "unidade nacional" para atrair os outros sete candidatos derrotados. "Faço um chamado à unidade nacional, sem distinção de partidos ou personalismos", disse. "Os governos de unidade nacional podem chegar a objetivos muito ambiciosos."
Contrariando todas as pesquisas, que previam um empate técnico, Santos conseguiu 46,5% dos votos no domingo e o opositor Antanas Mockus, 21,5%. Segundo analistas, é muito difícil que Mockus, do Partido Verde, consiga os 3,6 milhões de votos que o separam do favorito. Até porque Santos tem grandes possibilidades de conquistar os votos do terceiro colocado, Germán Vargas Lleras, e da conservadora Noemí Sanín. Juntos, ambos tiveram 15,3% dos votos - e só seriam necessários mais 3,5% dos votos para vitória do candidato governista.
Até domingo, uma aliança formal com Noemí e Lleras era vista como difícil por causa de disputas recentes. Agora, o poder de atração dos mais de 6 milhões de votos que Santos obteve podem fazer a diferença. "A situação mudou completamente com essa ampla vitória", diz o cientista político Felipe Botero, da Universidade dos Andes.
Ontem, Mockus tentava não perder o entusiasmo. "Temos três semanas para imaginar alternativas e convocar os cidadãos. Não é provável, mas é claramente possível (vencer)", disse. Os dois candidatos reuniram-se com os coordenadores de suas campanhas para traçar novas estratégias. No caso do opositor, ficou decidido que o PV investirá mais em propaganda em rádios e TVs. Na saída do encontro, Mockus mencionou o candidato liberal, Rafael Pardo, e o esquerdista Gustavo Petro como possíveis aliados, mas reiterou que não fará oferta de cargos.
No caso da campanha governista, a principal aposta é mesmo atrair alianças prometendo um governo de coalizão. "Isso poderia fazer com que um eventual governo de Santos fosse mais pluralista que o atual, mas ainda é preciso esperar para ver como esse processo de alianças evolui", afirmou Botero.
Reconhecimento. A vitória de Santos foi um reconhecimento do legado do presidente Álvaro Uribe, que acuou a guerrilha e desmobilizou grupos paramilitares. De acordo com o historiador e analista político Carlos Medina, da Universidade Nacional, Mockus também perdeu votos por seu mau desempenho em debates e por dar ênfase à proposta de aumento de impostos. "Enquanto um falava em subir impostos o outro (Santos) prometia empregos. Independentemente de quem foi mais honesto em suas propostas, não ha dúvidas de que a segunda tem muito mais apelo", disse Medina.