Título: Israel deporta os 700 ativistas da frota
Autor: Watkins, Nathalia
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2010, Internacional, p. A11

Depois de horas de atraso, todos os manifestantes pró-palestinos detidos na segunda-feira em águas internacionais enquanto tentavam furar o bloqueio imposto a Gaza foram expulsos do território israelense e seguiram para Turquia, Grécia e Jordânia

Festa. Ativistas fazem ¿V¿ de vitória ao chegar em Istambul

Israel libertou e deportou ontem todos os cerca de 700 ativistas pró-palestinos detidos na operação militar israelense da madrugada de segunda-feira, em águas internacionais. A ação deixou ao menos nove mortos em um dos seis navios na frota que pretendia romper o bloqueio que Israel impõe à Faixa de Gaza desde 2007 e revoltou a comunidade internacional.

Três aviões turcos e um grego que retiraram os ativistas de Israel aterrissaram ontem à noite em Atenas e Istambul. Mas a decolagem sofreu várias horas de atraso, em meio a uma guerra de informação e contrainformação travada entre o governo israelense e a Turquia - país de origem da maioria dos deportados. Segundo o porta-voz da chancelaria de Israel, Andy David, o atraso foi causado por distúrbios provocados pelos manifestantes, que teriam agredido funcionários da alfândega e imigração, e pelo governo turco, que exigia o embarque de três de seus cidadãos feridos gravemente durante a ação militar que estavam internados. Pela manhã, cerca de cem manifestantes já tinham sido libertados e retirados de ônibus de Israel pela fronteira com a Jordânia.

A transferência dos passageiros da prisão de Bersheva, no sul de Israel, até o aeroporto foi feita pelo Serviço Penitenciário de forma rápida e discreta, evitando as câmeras de televisão. Os ativistas não tiveram nenhum contato com a imprensa - que registrou apenas a veloz entrada dos ônibus no aeroporto, enquanto os ativistas acenavam fazendo o "V" da vitória.

"Terminamos todo o processo em apenas 12 horas. Não sobrou um só ativista na prisão" disse Yaron Zamir, porta-voz do Serviço Penitenciário.

De acordo com o governo israelense, os navios que participaram da expedição também serão devolvidos à Turquia. Toneladas de alimentos, medicamentos e outros gêneros destinados à ajuda humanitária para os habitantes da Faixa de Gaza foram desembarcadas no Porto de Ashdod e seguirão por rodovias até o território. Israel acusa os organizadores da frota de dar apoio político ao Hamas, afirma que os manifestantes causaram o incidente - quando agrediram os soldados que abordaram um dos navios - e denuncia a tentativa dos ativistas de transportar armas como estilingues, bolas de gude, martelos, pedaços de pau e barras de ferro nos navios.

Além dos mais de 200 turcos, a frota era composta por cidadãos da Argélia, Azerbaijão, Bahrein, Grécia, Indonésia, Jordânia, Kuwait, Malásia, Mauritânia, Marrocos, Omã, Paquistão, Síria e Iêmen, entre outros países. A cineasta brasileira Iara Lee, que também tem cidadania americana, partiu com o grupo que decolou para a Turquia (mais informações nesta página).

O premiado escritor sueco Henning Mankell, que estava a bordo de um dos seis navios da frota humanitária, acusou Israel de "brutalidade".

"O que houve foi inacreditável. O modo como os criminosos soldados israelenses nos bateram e mataram ativistas turcos a sangue-frio foi como num filme sangrento", disse o parlamentar marroquino Abdelqader Amara, que foi deportado para Amã, na Jordânia. "Os israelenses usaram munição de verdade, apesar de estarmos desarmados."