Título: Israel toma outro navio que levava ajuda a Gaza
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2010, Internacional, p. A16

Abordagem à embarcação irlandesa foi realizada novamente em águas internacionais, mas, desta vez, ativistas se renderam e não houve vítimas

O navio irlandês Rachel Corrie, que tentava furar o bloqueio israelense e levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza, foi invadido ontem pela Marinha israelense. A abordagem ocorreu novamente em águas internacionais, a cerca de 30 quilômetros da costa, às 6 horas (zero hora em Brasília). Desta vez, no entanto, não houve resistência dos ativistas e o navio foi conduzido ao porto de Ashdod, no sul de Israel.

Segundo informações de militares israelenses, os comandos tomaram o navio irlandês após cerca de 20 minutos de perseguição marítima e de inúmeros pedidos de mudança de rota ignorados pela tripulação. Israel informou que os 11 ativistas e 8 tripulantes serão deportados. Nove deles aceitaram deixar o país voluntariamente hoje.

Entre os passageiros do navio estão a irlandesa Mairead Corrigan, vencedora do Nobel da Paz de 1976, que chegou a ser citada como uma das integrantes da frota atacada na segunda-feira, e o ex-subsecretário-geral da ONU Denis Halliday.

De acordo com o comunicado oficial do Exército de Israel, não houve violência ou feridos entre os soldados ou a tripulação, "já que o uso de força não foi necessário e tiros não foram disparados". A ONG Free Gaza Movement, no entanto, soltou uma nota dizendo que a invasão ocorreu à força.

O Rachel Corrie estava carregando centenas de toneladas de ajuda humanitária, incluindo cadeiras de rodas, medicamentos e cimento. Israel disse que a carga do navio será inspecionada em Ashdod e seguirá para Gaza por terra. Alguns itens, porém, serão confiscados, como o cimento, que os israelenses consideram de uso militar.

Boicote. O reação internacional ao ataque israelense que matou nove ativistas na segunda-feira se intensificou ontem e foi além dos discursos inflamados. Na Suécia, o sindicato dos portuários anunciou um boicote de uma semana aos navios e produtos de Israel. Peter Annerback, porta-voz do sindicato, disse que entre os dias 15 e 24 nenhum produto israelense será desembarcado.

Na Noruega, os militares do país cancelaram um seminário sobre operações especiais porque um coronel do Exército israelense foi incluído no programa. A chancelaria de Israel protestou. Em nota, disse que o bloqueio em portos suecos era "ilegal" e, a respeito da decisão dos noruegueses, afirmou que a "ação de barrar indivíduos de seminários internacionais não promove nenhuma boa causa".