Título: Analistas descartam que economia esteja desaquecendo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2010, Economia, p. B4

Banco Central deve elevar sua previsão de PIB dos atuais 5,8% para mais de 6% no próximo relatório de inflação

Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirma que a economia já não corre risco de superaquecimento, o Banco Central (BC) está refazendo os cálculos do crescimento. É provável que o banco revise sua estimativa para o crescimento do PIB este ano dos atuais 5,8% para mais de 6% no próximo relatório de inflação.

A autoridade monetária deve continuar usando os instrumentos disponíveis para desaquecer a economia. Na quarta-feira, o BC deve elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,75 ponto porcentual.

Em entrevista ao Estado no dia 2 de junho, o presidente do BC, Henrique Meirelles, disse que, se for o caso, "podem sair normas mandando mudar uma forma de alocação de capital".

O instrumento disponível para a autoridade monetária é o aumento do depósitos compulsórios dos bancos. O BC ainda dispõe de R$ 31 bilhões em compulsórios que podem ser usados.

Em 2008, o banco chegou a estudar cortar prazo do crédito para a compra de produtos, mas desistiu. Para ser eficaz, a medida teria de ser muito ampla e causaria distorções na economia.

Na terça-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que deve mostrar números impressionantes. O Itaú Unibanco estima alta de 3% em relação ao quatro trimestre de 2008, o que significaria um ritmo chinês de 12,6% anualizado.

Mas os dados já estarão olhando para o retrovisor. Daqui para a frente, as taxas de crescimento tendem a ser mais comportadas, embora robustas.

Alguns indicadores divulgados na semana passada corroboraram a expectativa, expressada por Mantega, que a economia estaria moderando o crescimento. A produção industrial caiu 0,7% em abril em relação a março, na série sem influência sazonal.

A capacidade instalada da indústria da transformação, divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), teve a primeira queda em 14 meses: de 85,1% em abril para 84,9% em maio.

Analisas atribuem os recuos às menores vendas de automóveis e eletrodomésticos, após o fim do IPI reduzido. A avaliação é que o incentivo fiscal provocou uma antecipação de consumo.

Inflação. Mas esses indicadores estão longe de significar que as pressões inflacionárias ficaram para trás. O sócio diretor da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, classifica os indicadores como "flutuação" de uma economia em franco crescimento. "Não dá para chamar isso de desaceleração".

Para o economista-chefe do banco Santander, Alexandre Schwartsman, "esses indicadores recentes não significam que resolvemos o problema de sobreaquecimento da economia brasileira".

Ninguém duvida que a taxa de crescimento do segundo trimestre será inferior ao primeiro, mas os economistas ressaltam que se trata de uma questão estatística e de uma acomodação normal da economia.

O economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero, explica que é natural daqui para frente que a economia "intercale altos e baixos". "A desaceleração ainda é uma aposta. O que estamos vendo por enquanto são os fatos", disse.

Júlio Callegari, economista do JP Morgan, e Mônica Baumgarten de Bolle, da Galanto Consultoria, ressaltam o mesmo ponto: todos os indicadores que garantem uma demanda aquecida - emprego, crédito e renda - continuam "bombando".

"O Brasil não está mais crescendo em ritmo chinês, mas ainda é uma expansão forte, que não reduz as preocupações do Banco Central com a inflação no futuro", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Braúlio Borges.