Título: BC deve elevar Selic para 10,25% nesta semana
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2010, Economia, p. B4

Para o mercado financeiro, Copom dará sequencia nesta semana ao processo de elevação da taxa Selic, que deve chegar a 10,25%

De olho no forte ritmo da atividade econômica brasileira e nos ainda elevados índices de inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve dar sequência nesta semana ao processo de elevação da taxa básica de juros (Selic). Os economistas do mercado financeiro concentram majoritariamente suas apostas em uma elevação de 0,75 ponto porcentual da Selic na quarta-feira, o que levaria a taxa básica para 10,25% ao ano.

Apesar de a crise na Europa ser um fator que adiciona incerteza ao cenário macroeconômico, os analistas entendem que o problema ainda não traz impactos relevantes para a economia brasileira. Por isso, o BC deve tomar a decisão mirando a situação interna. "Os fatores domésticos é que vão pesar. A inflação está alta e a atividade econômica, muito forte", afirmou o economista-chefe do banco BES Investimento, Jankiel Santos.

Segundo ele, a situação europeia só mudaria o rumo do Copom em caso de uma deterioração forte da situação atual. "Não acho que a crise lá vai se resolver rapidamente. Mas também não acredito que vai piorar. O BC vai continuar olhando para o cenário doméstico."

Nos quatro primeiros meses de 2010, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 2,65%, praticamente metade da meta de 4,5% para o ano inteiro (que tem tolerância de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo). Nos 12 meses encerrados em abril, a inflação pelo índice oficial, que baliza o sistema de metas oficial, ficou em 5,26%.

Boa parte do nível mais elevado dos preços neste início de ano foi provocada por choques em preços de alimentos, que não estariam relacionados a um superaquecimento da economia. Mas o BC entende que a atividade econômica está muito forte, com a procura crescendo acima da oferta, e que isso tem contribuído para a elevação do IPCA. O índice de atividade econômica do BC (IBC-BR) mostrou crescimento de quase 10% na economia brasileira no primeiro trimestre.

Expectativas. Mais importante para o BC do que a inflação do início do ano é a piora nas expectativas para o IPCA no fim de 2010. Durante várias semanas, os analistas pesquisados pelo BC elevaram suas estimativas para o indicador de inflação. Para conter essa trajetória, o BC foi agressivo na primeira elevação dos juros, aumentando a Selic da mínima histórica de 8,75% ao ano para 9,5%. A sinalização era de que a tendência será mantida até que esse processo seja inteiramente revertido.

A piora nas expectativas finalmente foi estancada, com os analistas consolidando o cenário de aperto monetário forte, parcial reversão das altas de alimentos, certo impacto negativo da crise europeia nas commodities e retomada do discurso de austeridade fiscal do governo.

Agora, o mercado trabalha com um IPCA de 5,67% em 2010 e de 4,8% em 2011. Como a alta da Selic neste momento tem pouco efeito na inflação deste ano, o BC está interessado em consolidar a queda para 2011. "É essencial que o Copom atue elevando os juros para dosar o ritmo de atividade e garantir que as expectativas de inflação em 2011 se mantenham nesse nível de 4,8%", disse a economista-chefe do banco ING, Zeina Latif.

A LCA Consultores, porém, ainda crê em um Copom mais agressivo, com a elevação da Selic em 1 ponto porcentual. Segundo o economista Homero Guizzo, seria "conveniente" surpreender com uma posição mais conservadora para acelerar a redução das expectativas de inflação. Com isso, o ciclo de aperto teria uma duração menor.