Título: Remessa cresceu mais de dez vezes desde 2000
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2010, Economia, p. B3

De US$ 3,3 bilhões em 2000, valor chegou ao recorde de US$ 33,8 bilhões em 2008

As remessas de lucros e dividendos cresceram mais de dez vezes desde o início da década. Em 2000, empresas estrangeiras instaladas no Brasil enviaram US$ 3,3 bilhões para as matrizes. O montante atingiu US$ 5,6 bilhões em 2003, US$ 12,7 bilhões em 2005 e atingiu o recorde de US$ 33,8 bilhões em 2008. Em 2009, recuou para US$ 25,2 bilhões.

O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, afirma que a valorização do real incentiva esse movimento, porque as empresas enviam mais euros com a mesma quantidade de reais. "As remessas estão ligadas a moeda. E o real está muito forte."

O aumento das remessas preocupa porque o Brasil voltou a ter déficit nas transações com o mundo. Pressionado por vários fatores, como a redução do saldo comercial, o déficit em transações correntes deve atingir US$ 76 bilhões, ou 2,5% do PIB.

O valor está acima dos US$ 24 bilhões do ano passado. Ainda assim, os economistas dizem que o déficit em 2010 é facilmente financiável com investimentos externos. A preocupação maior é com a tendência.

Líder. O aumento da remessa de lucros e dividendos é uma consequência do maior interesse dos investidores estrangeiros pelo País. Entre as grandes nações emergentes, o Brasil é líder na atração de Investimento Estrangeiro Direto (IED) em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).

Um estudo do professor da PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda, aponta que a China tem um estoque acumulado de IED de US$ 378 bilhões, o que representa 9% do PIB local. O volume do Brasil é menor, US$ 288 bilhões, mas significa 18% do PIB.

"O País consolidou mudanças importantes. Comparado com China, Rússia, Índia, estamos à frente. O cenário é positivo e transforma o País na bola da vez da atração de investimentos", disse o professor da Fundação Getúlio Vargas, Ernesto Lozada.

Lacerda diz que os investimentos estrangeiros no Brasil são voltados para o mercado interno, cuja contrapartida é a remessa de lucro nos anos subsequentes. "Precisamos incentivar investimentos de empresas que exportem a partir do País, para compensar os efeitos negativos."

A crise na Europa desestabilizou a relação entre atração de investimentos e remessas de lucros. De janeiro a abril, o País recebeu US$ 7,88 bilhões em IED, mas remeteu mais, US$ 7,93 bilhões, em lucros.

O diretor-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luiz Afonso Lima, disse que os resultados foram "decepcionantes", mas a retomada dos investimentos deve ocorrer no segundo semestre.

O BC prevê que as remessas de lucros atinjam US$ 32 bilhões em 2010, abaixo dos US$ 45 bilhões do IED. Os Estados Unidos elevaram os investimentos no País em 61% no quadrimestre. A China também desponta como importante investidor, saltando de US$ 189 milhões para US$ 445 milhões no período.