Título: Desafiante, Irã fala em avanços de programa
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2010, Internacional, p. A17

Ressaltando que o país deve apresentar novos avanços em seu programa nuclear "nos próximos meses", segundo o chefe do programa nuclear iraniano, Ali Akbar Salehi, anunciou ontem que seu país construirá uma nova instalação para enriquecimento de urânio a partir de março. "Nos próximos meses, o anunciaremos uma nova conquista em relação à produção de combustível para o reator de pesquisas de Teerã", disse Salehi, em declarações citadas pela agência oficial Irna.

Salehi não deu mais detalhes sobre quais seriam as próximas "conquistas" do programa. O mais recente avanço do Irã foi anunciado em fevereiro, quando o país começou a enriquecer urânio a 20% - grau de pureza necessário para aplicação no reator de Teerã, que produz isótopos para tratamento de câncer.

Em desafio aberto à comunidade internacional, o Irã aprovou nos últimos meses a construção de dez instalações capazes de processar urânio, transformando-o em combustível para usinas nucleares. Na segunda-feira, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma quarta rodada de sanções ao país, destinada a evitar que os iranianos obtenham quantidade suficiente de urânio enriquecido a 90% para construir bombas atômicas. As autoridades iranianas, porém, rejeitam as acusações de que seu programa nuclear teria fins militares e alegam que buscam a tecnologia nuclear para fins científicos e energéticos.

Mas a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou que há razões para suspeitar que o Irã esteja perseguindo a capacidade para produção de armas nucleares. Segundo técnicos do organismo, uma vez alcançado o nível de 20% por cento de pureza, o passo seguinte para que se alcance o enriquecimento a 90% é muito menos custoso em termos de tempo e recursos.

As sanções aprovadas na ONU na segunda-feira - com voto contrário de Brasil (mais informações na página A19) e Turquia e abstenção do Líbano - determinam a inspeção, por agentes de terceiros países, de navios que transitem por portos iranianos. Também limita as transações financeiras de 40 bancos e outras empresas do Irã, controlados pela Guarda Revolucionária e supostamente financiadores do programa nuclear do país.

"Céu aberto". O jornal britânico The Times informou ontem que a Arábia Saudita desativou seus sistemas de defesa aérea para manobras militares destinadas a permitir que a Força Aérea de Israel sobrevoe seu território para um eventual ataque ao Irã. "Os sauditas autorizaram Israel a sobrevoar seu país, enquanto fazem vista grossa", afirmou ao jornal uma fonte militar dos EUA que atua na região, sob a condição de anonimato.

Apesar das relações tensas entre a Arábia Saudita e Israel, Riad considera um Irã nuclear uma ameaça regional. Os alvos mais prováveis seriam Natanz, Qom e Isfahan, no centro do Irã, e Arak, no oeste.