Título: Esmeraldo, o minoritário, tenta resistir
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2010, Economia, p. B6

Acionista vai à assembleia da Petrobrás para votar contra a capitalização da empresa."Não conseguirei subscrever ações", diz Esmeraldo

Esmeraldo, o minoritário. Parece título de tira de história em quadrinhos, mas assim é conhecido um dos mais atuantes acionistas pessoa física do País. Gilberto Souza Esmeraldo, capitão de mar-e-guerra aposentado, é detentor de uma carteira de ações invejável: Banco do Brasil, Bradesco, Vale, CPFL, CSN, Light, Souza Cruz, as empresas "X" de Eike Batista. E o xodó: Petrobrás.

É presença certa em todas as assembleias de acionistas convocadas pelas empresas. A do dia 22, da Petrobrás, que dará referendo ao processo de capitalização da empresa, será sua sexta participação em eventos do tipo este ano. Espera ser um dos primeiros a chegar ao auditório da companhia, pronto para protestar contra a proposta. Mas, ciente de que é voto vencido.

Interferência. "Não adianta, a União tem a maioria dos votos e já está decidido que vai aumentar o poder na companhia. A Petrobrás é bem administrada, o problema é que a União interfere muito", reclama.

Ele não revela o total que detém em ações, mas sabe que não terá condições de subscrever a quantidade necessária para acompanhar o aumento de capital proposto pelos controladores. Sua participação será diluída, como imagina que acontecerá com uma grande parcela de investidores pessoa física.

Maior operação. A capitalização da Petrobrás ficará entre US$ 50 bilhões e US$ 80 bilhões. Analistas do mercado financeiro arriscam US$ 60 bilhões no que será a maior operação do tipo do mundo. Isso corresponde a um terço do valor de mercado atual da empresa.

Para acompanhar o ritmo, os acionistas serão obrigados a aportar mais capital na empresa na mesma proporção. Os que não quiserem, ou não puderem, verão o porcentual de suas ações minguar no bolo.

Diretor da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), sabe como essas coisas funcionam. "Não vou conseguir subscrever. Para isso, teria de vender outras participações, coisa que não vou fazer", diz o investidor. Aos 68 anos, Esmeraldo vive com a mulher e a filha em Copacabana e tem uma vida confortável, mas não aceita a classificação de "rico".

"Existe o minoritário grande, o médio e o pequeno. Eu sou minoritário pequeno mesmo. Nessa capitalização, entrarão os grandes, os fundos estrangeiros, os investidores chineses. E os controladores. O duro é que a União vai subscrever sem pagar um tostão. Será uma operação com reservas de petróleo e títulos públicos pra lá, títulos públicos pra cá. Nós minoritários, vamos lá fazer número", resume.