Título: Leilões de transmissão têm deságio de até 51% e domínio das estatais
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2010, Economia, p. B1

De nove lotes ofertados, quatro foram arrematados pela Eletrobrás e dois pela estatal paranaense Copel; espanholas levaram apenas um trecho

As estatais dominaram o leilão de transmissão de energia elétrica realizado ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F Bovespa). Dos nove lotes ofertados, quatro foram arrematados pelo Grupo Eletrobrás e dois pela companhia estadual Copel, com deságios de até 51%. As espanholas, que nos últimos leilões ficaram com quase tudo que disputaram, conseguiram levar apenas um trecho.

Foram licitados 700 quilômetros (km) de linhas de transmissão e 11 subestações nos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul. Pará, Maranhão, Mato Grosso, Alagoas e Bahia. As obras, que vão reforçar o sistema nacional, exigirão investimentos de R$ 700 milhões, que serão bancados pelos vencedores de ontem. Em contrapartida, eles vão receber uma receita anual fixa de R$ 26,58 milhões durante 30 anos.

"O resultado foi muito bom. Tivemos uma disputa acirrada, com a participação de grupos nacionais e estrangeiros. O País ganhou", afirmou o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, que organizou o leilão.

Segundo ele, se for analisar os leilões desde 2003, quando houve participação conjunta das estatais e dos grupos privados, os deságios são cada vez maiores, o que deve beneficiar os consumidores. Na disputa de ontem, o deságio médio ficou em 31,57%, ante uma média de 25,43% dos leilões entre 1999 e 2009.

No total, 19 empresas e um consórcio disputaram os nove lotes colocados à disposição. A maior surpresa ficou com a Copel, do Paraná, que nos últimos anos perdeu participação no mercado nacional. A empresa arrematou o maior lote ofertado e marcou sua estreia em território paulista. Com deságio de 35,91%, ela venceu a concessão da linha de transmissão entre Araraquara e Taubaté, de 356 km.

A estatal levou também a subestação de Cerquilho, em São Paulo, dando um desconto de 38,14%. "Queremos recuperar a participação de mercado que, em 2002, era de 5% e hoje está em 3,5%", disse o diretor de engenharia da Copel, Edson Sardeto.

Segundo ele, essa postura mais agressiva é uma diretriz adotada pela nova direção da companhia, que agora é presidida por Ronald Ravedutti. Além das licitações promovidas pelo governo federal, a empresa não descarta a possibilidade de fazer aquisições para crescer.

Chesf. Outro destaque do leilão foi a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). A empresa foi responsável pelo maior deságio oferecido ontem, de 51%. No total, ela levou duas subestações, uma na Bahia e outra em Alagoas, que vão melhorar a confiabilidade do sistema, destacou o presidente da empresa, Dilton Conti. "Somos o maior gerador de energia do País e temos um ativo muito grande no Nordeste. Isso nos deu mais competitividade para participar dessa disputa."

O Grupo Eletrobrás também foi representado pela Empresa de Transmissão de Energia do Rio Grande do Sul, que levou dois lotes. Um deles, que incluía a linha entre Monte Claro-Garibaldi, teve a menor concorrência do leilão. Apenas a estatal entrou na disputa e ofereceu deságio de 0,96%.

As empresas espanholas, destaque nos leilões passados, marcaram presença em quase todos os lotes, mas não tiveram muito sucesso. Seus lances foram superados com alguma folga pelos concorrentes. Apenas a Elecnor, que recentemente vendeu ativos brasileiros para os chineses, venceu um trecho, com deságio de 33,94%.

O lote mais disputado do leilão foi vencido pela Alupar, que depois dos lances normais foi para viva-voz. Foram seis lances, que resultaram num deságio de 13%. O consórcio Atlântico, que tinha participação de uma empresa portuguesa, fechou o grupo de vencedores, desbancando a estatal Eletronorte numa linha no Pará.