Título: Turquia apresenta a Bibi lista de exigências
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2010, Internacional, p. A14

Caso condições sejam cumpridas, embaixador turco voltará a Tel-Aviv; suspensos contratos militares com Israel

A Turquia deu ontem novos sinais de que não pretende normalizar tão cedo suas relações com Israel, país com o qual manteve uma estreita cooperação nas últimas décadas. Ancara anunciou a suspensão de bilionários contratos militares que tinha com empresas israelenses e a diplomacia turca apresentou uma lista de exigências para enviar de volta seu embaixador a Tel-Aviv.

As relações turco-israelenses estão seriamente estremecidas desde o assalto à Frota da Liberdade, em 31 de maio. Na ocasião, comandos de Israel mataram nove ativistas turcos que estavam a bordo do navio Mavi Marmara, de bandeira turca. Em protesto, a Turquia retirou seu embaixador de Tel-Aviv e acusou Israel de "terrorismo de Estado". O chanceler turco, Ahmet Davutoglu, chegou a afirmar que a ação israelense era "o 11 de Setembro da Turquia".

Para normalizar as relações com Israel, o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan exige que seu colega israelense, Binyamin "Bibi" Netanyahu, peça desculpas oficiais pelo assalto em águas internacionais. Israel deve ainda devolver as embarcações apreendidas, instaurar uma investigação internacional e oferecer compensação às famílias dos nove ativistas mortos. Só assim, Ancara voltará a ter um embaixador em Tel-Aviv.

Israel, contudo, deu indícios de que não aceitará praticamente nenhuma das condições da Turquia. Sob pressão internacional, o governo Netanyahu instaurou uma investigação com participação de autoridades estrangeiras. Mas no comitê responsável apenas israelenses têm direito a voto. A carga que estava a bordo da Frota da Liberdade foi distribuída, mas as embarcações seguem apreendidas em Israel.

Bibi defende que a ação dos comandos foi em autodefesa e nega que os soldados usaram força excessiva contra os ativistas.

Prejuízos bilionários. Com o fim da Guerra Fria, Turquia e Israel passaram a compartilhar vários objetivos estratégicos no Oriente Médio e aproximaram-se. Turcos temiam o apoio da Síria - país com o qual quase entraram em guerra, em 1998 - sobre seus separatistas curdos. Partidários do fundador da Turquia, Kemal Ataturk, que estavam no poder em Ancara também viam com maus olhos a influência iraniana sobre setores islâmicos turcos.

Os inimigos comuns e a forte aliança com o Ocidente fizeram turcos e israelenses celebrarem uma série de acordos militares nos anos 90. Mas nos últimos dois anos a relação deteriorou-se, principalmente depois que o Partido Justiça e Liberdade (AKP, na sigla em turco), de orientação islâmica moderada, chegou ao poder na Turquia.

Erdogan já havia condenado de maneira veemente a guerra de Israel em Gaza, em 2009, e se desentendido com o presidente israelense, Shimon Peres, no Fórum Econômico Mundial.

Ontem, o jornal israelense Haaretz noticiou que o governo turco decidiu romper contratos bilionários com empresas israelenses de segurança e defesa. Entre as 16 parcerias suspensas, está uma envolvendo US$ 5 bilhões para a compra de mil tanques israelenses Merkavá III. O gelo se estenderá também a um contrato de US$ 800 milhões para compra de duas aeronaves ultramodernas de vigilância e outro de US$ 50 milhões para modernizar tanques T-60 da Turquia.

Contratos bilaterais entre empresas turcas e israelenses continuam em vigor, a não ser que uma das companhias decida recuar, informou o jornal Zaman, da Turquia.

"Destruir essas relações é muito mais fácil do que estabelecê-las", disse um diplomata turco que pediu anonimato. "No entanto, estamos prontos para encarar o impacto negativo de cortar esses laços, caso o lado israelense se recuse a pedir desculpas", completou.

A chancelaria turca estaria ainda planejando rebaixar definitivamente sua representação em Israel para a categoria de um encarregado de negócios. Desde 1980 a Turquia tem um embaixador em Tel-Aviv.

Condições turcas Desculpas - Bibi deve, publicamente, desculpar-se pelo assalto à Frota da Liberdade

Investigação - Turcos exigem um inquérito com participação ativa de autoridades internacionais. Israel recusa

Navios - Israel deve liberar os seis navios de bandeira turca retidos no Porto de Ashdod

Indenização - Famílias das nove vítimas devem ser compensadas