Título: Sucessor de Uribe na Colômbia só será decidido no 2º turno, dizem pesquisas
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2010, Internacional, p. A16

Empate técnico. Colombianos vão às urnas para eleger substituto do presidente que trouxe estabilidade política e tirou o país das mãos de guerrilheiros e paramilitares; candidato governista Juan Manuel Santos e opositor Antanas Mockus disputam voto a voto

A Colômbia vai às urnas hoje para eleger o sucessor de Álvaro Uribe, presidente que tirou o país das mãos das guerrilhas e dos grupos paramilitares. Mas, ao contrário do que se poderia prever três meses atrás - quando o candidato governista, Juan Manuel Santos, parecia favorito -, a votação promete ser disputada voto a voto. O excêntrico Antanas Mockus, com 34% das intenções de voto, está tecnicamente empatado com Santos, que tem 35%, de acordo com uma pesquisa do Instituto Datexco. Por isso, é dado como certa a realização de um segundo turno no dia 20, no qual é Mockus quem aparece na frente com pequena vantagem.

Com 74% de aprovação, Uribe termina seu segundo mandato como um dos líderes mais populares da região. Em seus oito anos no poder, ele conseguiu acuar as guerrilhas e desmobilizar a maior parte dos paramilitares, o que não é pouco. Só as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) chegaram a dominar um quarto dos municípios colombianos. No país que Uribe entregará a seu sucessor, o grupo está confinado às fronteiras e territórios isolados.

Os sequestros caíram de mais de 2 mil ao ano, no início dos anos 2000, para duas centenas. As estradas voltaram a ser transitáveis. E os habitantes de Bogotá já podem caminhar pelas ruas relativamente tranquilos, sem medo da explosão de uma bomba na lata de lixo mais próxima.

No entanto, agora que o pior já passou, muitos estão parando para se perguntar a que custo tudo isso foi feito E estão descobrindo que, apesar de ainda serem gratos a Uribe, estão fartos de alguns aspectos de seu governo, principalmente os escândalos de corrupção, abusos de poder e atentados aos direitos humanos.

É esse o primeiro dos dois fatores que dificultam, segundo analistas, a transferência de votos de Uribe para Santos, seu ex-ministro da Defesa. "Há um desgaste natural da equipe que está no poder há oito anos", disse ao Estado a colunista do jornal El Tiempo María Jimena Duzán. "Santos também não tem a eloquência e a afinidade com as massas que tem Uribe, o que torna mais difícil reverter o processo."

O segundo fator está relacionado à excessiva centralização do poder que marcou a gestão do presidente. Uribe nunca desistiu do terceiro mandato e só ficou claro que ele não concorreria em fevereiro, quando a Justiça proibiu o referendo que lhe abriria as portas para a segunda reeleição. Para Santos, sobraram apenas alguns meses de campanha. Mockus, ex-prefeito de Bogotá, encontrou espaço para subir nas pesquisas com um discurso que explora justamente os escândalos do governo.

Em 2007, foi descoberta a vinculação de parlamentares governistas com paramilitares de ultradireita. Até o primo do presidente, o deputado Mario Uribe, foi preso. No ano seguinte, a ex-deputada Yidis Medina, cujo voto foi decisivo para a aprovação da emenda que permitiu a primeira reeleição de Uribe, confessou ter aceitado favores para apoiar o projeto.

No mesmo ano, a procuradoria colombiana começou a investigar casos em que militares executaram civis inocentes e os registraram como "guerrilheiros mortos em combate" para obter promoções e dias de folga - os chamados "falsos positivos". No ano passado, foi descoberto que o serviço de inteligência colombiano grampeou juízes, jornalistas e parlamentares.

Segundo Mockus, esses problemas decorrem do que ele chama de "cultura do atalho", que teria raízes profundas na história do país. "Como a fama de honesto de Mockus é impecável, foi a promessa de combate à corrupção que impulsionou sua candidatura e não projetos concretos de governo", diz o cientista político Alejo Vargas da Universidade Nacional da Colômbia.

Os escândalos não afetaram a popularidade do presidente graças à imensa admiração que os colombianos sentem por ele por causa dos avanços na área de segurança.