Título: Brasil ampliou reservas em 24%, a maior alta em 1 ano entre os Brics
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2010, Economia, p. B6

Desempenho é resultado da atuação do BC, que acelerou a compra de dólares com a rápida recuperação econômica

A rápida recuperação da economia após o tombo causado pela crise financeira mundial permitiu ao Brasil liderar o aumento das reservas internacionais nos últimos 12 meses. Entre os maiores países emergentes do mundo - o grupo chamado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) -, o montante brasileiro foi o que mais cresceu: 24%.

O desempenho é explicado pela atuação do Banco Central, que acelerou a compra de dólares em meio à forte entrada da moeda no País. Esses recursos têm sido atraídos graças à expansão da atividade econômica. No fim de maio, as reservas brasileiras somavam US$ 249,8 bilhões.

Levantamento do Estado com dados do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial mostra que as reservas internacionais brasileiras cresceram mais rápido até que o volume da China, que aumentou 21,6% em 12 meses. O ritmo é bastante distinto dos demais países do grupo. No período, o montante da Rússia avançou 10,4% e a Índia ficou na lanterna, com diminuição de 5%.

Com reforço de US$ 48,3 bilhões, as reservas brasileiras estão a ponto de ultrapassar o montante da Índia. Há um ano, o Brasil mantinha o equivalente a 75,9% das reservas daquele país. No fim de maio de 2010, a proporção já estava em 99,1%.

Atualmente, a China mantém US$ 2,4 trilhões em reservas internacionais. Na Rússia, o volume está em US$ 456,4 bilhões e, na Índia, US$ 252,1 bilhões.

O crescimento das reservas é explicado pela atuação do Banco Central. Nos 12 meses, a autoridade monetária comprou US$ 36,8 bilhões que estavam em bancos e corretoras de câmbio no Brasil. O valor foi maior até que os US$ 34,5 bilhões que ingressaram no País no mesmo período.

Dessa forma, além de absorver o novo dinheiro estrangeiro que entrou no mercado, o BC também comprou dólares que estavam no caixa dos bancos.

Preocupação. O professor da Fundação Instituto de Administração (FIA) e coordenador de projetos da Tendências Consultoria, André Luiz Sacconato, avalia que o fato de o BC adquirir dólares em volume superior à entrada da moeda no País pode sinalizar alguma preocupação com o câmbio. "Embora as compras sejam oficialmente para reforço das reservas, também pode haver o objetivo de não deixar o real se valorizar demais. Por isso, o Banco Central tem comprado dólares sucessivamente. Ele não comprou só o fluxo novo, mas também a posição dos bancos no câmbio."

A autoridade monetária rechaça a avaliação de que os leilões diários - que ocorrem ininterruptamente desde maio de 2009 - tenham como objetivo influenciar a cotação do dólar. A explicação do BC é exatamente oposta: as ações servem para evitar eventuais distorções no mercado.

Sacconato não faz críticas diretas à estratégia do BC, mas pondera que o Brasil usou menos de US$ 20 bilhões para amenizar os efeitos da crise de 2008. Por isso, diz ele, a eficácia de se reforçar ainda mais as reservas pode ser questionada. "O mais importante é ter as reservas em volume expressivo, o que o Brasil já tem", diz o professor.